16 julho 2019

“Caneja D’Infundice”, O prato da Ericeira que nenhum restaurante quer servir

23:36


CONFRARIA DA CANEJA DE INFUNDICE - ERICEIRA
Com o objetivo de preservar, divulgar e valorizar aquela que é, sem dúvida, uma original e rara iguaria, foi constituída, por escritura notarial, a “Confraria da Caneja de Infundice – Ericeira”,   peixe da família do cação que, segundo a receita passada de geração em geração, deve ser embrulhada em panos, guardada em local fresco e escuro, entre 10 a 15 dias, o que lhe confere características excecionais depois de cozida: o intenso odor amoniacal é compensado pela textura e sabor de um petisco que deverá ser acompanhado por vinho tinto e por uma guarnição simples de batata cozida, bem regada por azeite , com respeito pela simplicidade e originalidade da iguaria e da tradição que lhe está associada.




Na Ericeira não se perdeu a tradição de preparar a “Caneja d´Infundice”, prato de peixe, nascido na comunidade piscatória. De singular, o facto de só após 15 dias sobre a captura ser consumido. Não conhece frigorífico e o odor é o do amoníaco.


Peguemos num dicionário para percebermos o que nos devolve a entrada Infundice. Lemos: “Barrela feita de urina em que se demolhava a roupa muito suja para depois se lavar mais facilmente”. Face ao exposto, sabendo que à especialidade culinária da Ericeira, a caneja, lhe é colado o termo Infundice, temos de nos preparar para uma “refeição fora da caixa”.
É no decorrer de um almoço na sua propriedade que um filho da Ericeira, Artur Gama, produtor vinícola da casa Quinta da Boa Esperança, próxima de Torres Vedras, nos explica a singular forma de cura da caneja, peixe da família do cação, que a restauração evita e que ao palato mais sensível de alguns comensais pode afigurar-se repelente.
Artur é membro de uma peculiar Confraria, a da “Caneja d´Infundice”, criada em 2016. O mesmo é dizer que na Ericeira este prato singular continua a ter quem lhe preserve a memória. “Todos os anos, pelo outono, fazemos um almoço que chega a reunir 200 pessoas”, sublinha o produtor vinícola.
Um almoço que não é preparado nem confecionado em nenhum restaurante da localidade da Região Oeste. Há uma razão de base: o odor. A caneja depois de capturada nos mares próximos à Ericeira, de março a outubro, é “embrulhada durante duas semanas num pano e assim fica, em local escuro e fresco, por exemplo uma arca ou gaveta. Há mesmo quem a enterre”, diz ao SAPO Lifestyle o nosso interlocutor.
“O cheiro da caneja depois deste processo é horrível, pode manter-se semanas. Contudo, depois de cozido o peixe adquire uma cor branca e um odor mais suave
Volvido este tempo de maturação, o peixe, então com um forte odor amoniacal, é preparado para ser cozido. “O cheiro da caneja depois deste processo é horrível, pode manter-se semanas. Contudo, depois de cozido o peixe adquire uma cor branca e um odor mais suave. Acompanhamo-lo com batata cozida com pele, uma cebola crua e um fio de azeite - que em contacto com o peixe perde o tom dourado, ficando esbranquiçado - e a textura e macieza desta carne é estupenda”, adianta Artur Gama. Manda a tradição que à caneja se lhe junte o vinho tinto, o que eleva a experiência gastronómica. “Os mais velhos dizem que, a acompanhar a caneja, se pode ingerir cinco litros de vinhos sem nos embebedarmos”, é-nos afiançado. Não pode, também, faltar um bom naco de pão de Mafra.

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