27 julho 2020

CEM realizou encontro mensal em Machico

A Confraria Enogastronómica da Madeira realizou o seu encontro cultural e enogastronómico de Julho no restaurante "Pico da Maré Alta,", no Município de Machico. Neste evento esteve presente o Sr. Ricardo Franco, Presidente do Município de Machico.
No início foi feito um minuto de silêncio em homenagem à Sr.ª Isabel Nascimento, esposa do confrade fundador António Magno Morna Nascimento, que faleceu no dia 17 de Julho.

Neste encontro Alcides Nóbrega da Luz, presidente da Confraria Enogastronómica da Madeira, fez saber que está a aguardar uma reunião com o Sr. Dr.º Pedro Ramos, Secretário Regional da Saúde e Proteção Civil, onde o XX Capítulo da Confraria Enogastronómica será o assunto a ser discutido.

A ementa de encontro teve como base a gastronomia tipica de Machico: Carne d`vinho e alhos, Gaiado e Atum, os vinhos de mesa madeirenses, Boneca de Canudo (tinto), Pedra de Fogo (tinto) e Quinta do Barbusano (branco).





















25 julho 2020

Nos vinhos ancestrais da Geórgia mora a uva que Noé plantou após o dilúvio

Em diversos sítios arqueológicos, sementes de uvas milenares e fragmentos de vasos de barro com vestígios de ácido tartárico têm sido descobertos, o que indica que os primeiros “viticultores” do mundo provavelmente foram os povos que habitavam o sul do Cáucaso
Um viajante ocidental desavisado provavelmente compreenderia apenas uma palavra do georgiano, uma vez que a língua é de raiz quase tão isolada quanto a basca: vinho, em georgiano, se pronuncia gvino, e se escreve ღვინო (o singular alfabeto georgiano foi criado inicialmente para fins eclesiásticos, e é utilizado atualmente por menos de cinco milhões de pessoas).
A Geórgia, país incrustado entre o Mar Negro e o Grande Cáucaso, onde Europa e Ásia dissolvem-se numa coisa só, é a terra de mais de quinhentas variedades autóctones de uvas viníferas, e a região onde os primeiros traços de vitivinicultura foram encontrados. Com uma história peculiar, o país converteu-se precocemente ao cristianismo, no início do século IV, teve a sua era de ouro entre os séculos XII e XIII, período de expansões territoriais e desenvolvimento nas ciências e artes, foi anexado pelo Império Russo no começo do século XIX, e tornou-se uma república socialista soviética no período compreendido entre 1921 e 1991, quando se tornou independente.
Os primeiros “viticultores” do mundo provavelmente foram os povos que habitavam o sul do Cáucaso. Sementes de uvas milenares e fragmentos de vasos de barro com vestígios de ácido tartárico (componente primário das uvas, e presente no vinho), têm sido descobertos em diversos sítios arqueológicos ao redor de Tbilisi, capital da Geórgia moderna. Análises químicas indicam que a vitivinicultura teve início naquela região no sexto milênio antes de Cristo.
 Há regiões produtoras de vinho do noroeste ao sudeste da Geórgia, mas a maior denominação de origem controlada do país é Kakheti, entre os rios Alazani e Iori, ao leste de Tbilisi, capital do país
Por lá, é possível ainda hoje contemplar este legado milenar de cultura da vinha: o maghlari, método arcaico de cultura extensiva, consiste em cultivar as videiras com o mínimo de intervenção, até que se tornem verdadeiras árvores. É um método mais presente no oeste georgiano, próximo de Kutaisi, e do mar. O dablari, mais semelhante aos métodos modernos de cultura intensiva, busca conduzir o crescimento da videira por meio de podas, para assim controlar a quantidade e qualidade das uvas.
Para além dos métodos de cultivo da vinha, o mais singular elemento da ancestral vitivinicultura da Geórgia são os grandes vasos de terracota utilizados nos processos de vinificação e armazenamento: os qvevri. Inscrito desde 2013 como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, o método de vinificação por qvevri fascina e inspira hoje produtores de vinho de todo o mundo. Enterrados na terra, com apenas um tampo de madeira visível, esses vasos de formato oval permitem maior tempo de maceração do mosto de uva, e aproveitam uma temperatura mais amena abaixo da superfície. Alguns produtores mantêm a tradição de cobrir as paredes internas dos qvevri com cera de abelha, o que altera a qualidade da superfície de contato do vinho.
Há regiões produtoras de vinho do noroeste ao sudeste da Geórgia, mas a maior denominação de origem controlada do país é Kakheti, entre os rios Alazani e Iori, ao leste de Tbilisi. Após a anexação do território pelos russos, em 1801, iniciou-se na região o desenvolvimento de uma vitivinicultura nos padrões europeus. Em Tsinandali, ainda hoje um pequeno vilarejo, o poeta romântico, e aristocrata nascido em São Petersburgo, Alexander Chavchavadze construiu a maior vinícola (marani) de toda a Geórgia, onde continua armazenado o primeiro vinho georgiano engarrafado: um Saperavi de 1841. A microzona, de 653 hectares, dá nome a um dos vinhos emblemáticos do país: uma mescla das uvas Rkatsiteli e Mtsvane (que, em georgiano, quer dizer “verde”), o Tsinandali é um vinho branco de corpo médio, cor de palha e viva acidez. 
RKATSITELI (რქაწითელი) 
Segundo o livro do Gênesis, após o dilúvio, Noé teria se tornado lavrador e plantado uma vinha. E bebeu do vinho, e embebedou-se. A vinha, dizem muitos georgianos, complementando o Antigo Testamento, era de Rkatsiteli. Os cachos da Rkatsiteli são geralmente grandes, e com pequenas bagas. As uvas atingem simultaneamente altos níveis de açúcar e de acidez. Tem produtividade alta, amadurecimento tardio e é resistente a temperaturas frias.
 Na Geórgia é possível encontrar mais de quinhentas variedades autóctones de uvas viníferas e é também a região onde os primeiros traços de vitivinicultura foram encontrados
Uma das mais antigas castas do Cáucaso, a Rkatsiteli é a variedade mais cultivada de toda a Geórgia. Antes das campanhas antiálcool de Gorbatchov, que promoveu a arrachage (desenraizamento, literalmente, em francês) de dezenas de milhares de hectares de vinhedos, prejudicando severamente a indústria do vinho soviética, era possivelmente a casta mais cultivada em todo o mundo.
Na Geórgia, o método tradicional de vinificação com as cascas da Rkatsiteli em qvevris ainda é praticado, em menor escala, e produz um vinho cor de âmbar, com frescor, notas de especiarias e um aroma de maçã verde inconfundíveis. Nas regiões mais quentes de Kakheti, a Rkatsiteli é mobilizada para a produção de vinhos fortificados, à maneira dos Vinhos do Porto. Também são produzidos espumantes com Rkatsiteli, mas os naturais altos níveis alcoólicos dificultam a vida dos enólogos.
 É possível ainda hoje contemplar o legado milenar de cultura da vinha na Geórgia: o maghlari, método arcaico de cultura extensiva que consiste em cultivar as videiras com o mínimo de intervenção, até que se tornem verdadeiras árvores
Na República da Moldávia, é chamada por muitos nomes: Corolioc, Rkatiteli, Topolioc. É largamente cultivada na Bulgária, com mais de 13 mil hectares de vinhedos. Na China, é conhecida como Baiyu, e é cultivada nas províncias de Shandong, Jiangsu, Anhui e na vasta região de Xinjiang. Os chineses estão entre os maiores consumidores de vinhos georgianos, juntos com os Estados Unidos, que também cultivam Rkatsiteli, na região dos Finger Lakes, estado de Nova York, e na Virgínia. 
 O mais singular elemento da ancestral vitivinicultura da Geórgia são os grandes vasos de terracota utilizados nos processos de vinificação, os chamados qvevri
SAPERAVI (საფერავი) 
Uma casta tintureira, cujo nome remete a pintar, manchar de tinta, o vinho de Saperavi é o tinto mais produzido na Geórgia. As bagas são pequenas, e possuem uma casca grossa e escura. Os georgianos comumente definem o vinho de Saperavi como “vinho preto”, dada à forte coloração extraída no mosto. É mais suscetível ao míldio e à botrytis, e geadas primaveris podem prejudicar o amadurecimento precoce das uvas. É uma variedade muito antiga, originada na região histórica de Meskheti, na fronteira da Geórgia com a Turquia. Mas é em Kakheti que tem sido mais e melhor cultivada.
 No início do século IV o país converteu-se precocemente ao cristianismo, teve a sua era de ouro entre os séculos XII e XIII, período de expansões territoriais e desenvolvimento nas ciências e artes
A versatilidade da Saperavi é bem conhecida nos países banhados pelo Mar Negro. Em Krasnodar e em Rostov, no sul da Rússia, eram mais de 700 hectares cultivados em 2010. Outros 300 hectares produzem uma casta híbrida, a Saperavi Severny (Saperavi do Norte, em russo), em Rostov-on-Don. Ucranianos e moldávios tinham mais de 2.200 hectares cultivados 10 anos atrás. Na Armênia, disputa com a casta nacional Areni a hegemonia dos vinhedos. E, na Austrália, a Saperavi encontrou um novo clima, e tem produzido vinhos interessantes nas regiões de Victoria, Barossa e McLaren Valley.
 Em Kindzmarauli é feito o melhor vinho fortificado de Saperavi. Os monovarietais tranquilos produzidos com a casta são encorpados, com acidez e taninos presentes, têm um sabor forte de cassis, amoras e evoluem bem com o tempo. A vinificação da Saperavi em qvevris também é realizada, por produtores especiais, concentrados nas microzonas, denominações de Kakheti, de Mukuzani e Napareuli. No Brasil, o vinhateiro James Martini Carl, da Negroponte Vigna, foi o pioneiro no cultivo e na produção de um vinho de Saperavi. Ele cultiva também as castas Chinuri, Rkatsiteli e Usachelari. “Os vinhos no sul do Brasil, zonas mais frias, altas e úmidas, são mais aptas a castas principalmente da Geórgia”, acredita o produtor.
O VINHO FAVORITO  DE JOSEF STALIN
Um dos vários mitos que cercam a controversa biografia de Josef Stalin consiste na preferência, nostálgica talvez, do Secretário-geral do Partido Comunista soviético por vinhos de sua terra natal, a Geórgia. As reivindicações ao título de “vinho favorito de Stalin” movem a indústria do vinho georgiano até hoje, sobretudo pelo fascínio que circunda a figura do infame camarada. Nascido em Gori, em um casebre paupérrimo, Stalin aparentemente preferia os vinhos semi-doces das microzonas de Khvanchkara e de Kindzmarauli: o primeiro é uma mescla das castas tintas Aleksandrouli e Mujuretuli, e o segundo é feito em Kakheti apenas da tintureira Saperavi. Diz-se que as castas brancas Mtsvane e Chinuri, largamente cultivadas na região onde Stalin cresceu, também eram de seu agrado. Atualmente, deve ser mais comum encontrar Montrachets e Barolos nas adegas do Kremlin de Moscou, visto que a Geórgia e a Rússia estão em conflito pela região da Ossétia do Sul desde os tempos de Gorbatchov.

23 julho 2020

Octávio Ascensão Ferraz | 'Palmeiras e Voltas e Xavelha'


Baseada numa propriedade que pertence à mesma família há 3 gerações, a empresa foi fundada em 1999 por Octávio Ferraz. Embora no início do século 20 ali estivesse um vinhedo, decidiram fazer uma reconversão em bananal. Mas em 1999 voltaram a plantar vinhas, com as castas brancas Verdelho, Malvasia Fina e Arnsburger, e as castas tintas Aragonês, Merlot e Syrah.

Numa evolução natural surgiu o primeiro vinho branco em 2005 da marca Palmeira e Voltas, que é um local da cidade de Câmara de Lobos, que fica ali bem perto. Aliás as vinhas estão plantadas numa encosta de nome Ribeira dos Socorridos, pertencente ao local Palmeira e Voltas.

Seguiu-se, em 2007, o primeiro vinho tinto, a que deram o nome duma típica embarcação de pesca de Câmara de Lobos, a Xavelha. Finalmente, seguindo as tendências do mercado, em 2014 surgiu primeiro vinho rosé, também com a marca Xavelha.

Nas visitas que proporcionam aos turistas, apreciam-se várias curiosidades, entre árvores de fruta e plantas aromáticas, alguns pequenos lagos, mesmo alguns animais domésticos e uma vista que vai até Câmara de Lobos, lá ao fundo. Uma sala de provas bem apetrechada e um alpendre ao ar livre, proporcionam as condições para apreciar os vinhos, com alguns petiscos á mistura.


Based on a property that has belonged to the same family for 3 generations, the company was founded in 1999 by Octávio Ferraz. Although there was a vineyard there at the beginning of the 20th century, they decided to convert it into a banana plantation. But in 1999, they started planting vines again, with the white varieties Verdelho, Malvasia Fina and Arnsburger, and the red varieties Aragonês, Merlot and Syrah. As a natural evolution, the first white wine appeared in 2005 under the Palmeira e Voltas brand, which is a place in the city of Câmara de Lobos, nearby. In fact, the vineyards are planted on a hillside called Ribeira dos Socorridos, belonging to the Palmeira e Voltas locality. It was followed, in 2007, by the first red wine, which was named after a typical fishing boat of Câmara de Lobos, the Xavelha. Finally, following market trends, in 2014 appeared the first rosé wine, also with the Xavelha brand. In the visits they provide to tourists, there are several curiosities, among fruit trees and aromatic plants, some small lakes, even some domestic animals and a view that goes up to Câmara de Lobos, in the background. A well-equipped tasting room and an open-air porch provide the conditions to enjoy the wines, together with some appetisers.

22 julho 2020

Espumante madeirense Terras do Avô conquista 1.º lugar em prova cega no continente


O vinho madeirense Terras do Avô conquistou mais uma distinção a nível nacional.

A prova cega decorreu na Quinta de Lourosa com 12 provadores, estando incluídos 6 membros da equipa dos Cegos por Provas, 4 enólogos (sem vinhos seus em prova) e 2 enófilos e profissionais da área dos vinhos.

Foram seleccionados 7 'Blanc de Blancs' (vinhos feitos com uvas de castas brancas) e 7 'Blanc de Noirs' (vinhos com uvas de castas tintas), abrangendo várias regiões do país.

As garrafas foram tapadas e a ordem de prova, dentro de cada categoria, foi aleatória e efectuada por elementos não provadores. Foi usada a tabela da O.I.V. para espumantes, com pontuações até 100 e depois converteu-se para a escala até 20.

O preferido na categoria 'Blanc de Blancs' foi o madeirense Terras do Avô 2015, que obteve uns admiráveis 95,3 (18,5) e, ainda para mais, foi o espumante mais pontuado de todos em prova.

Quase com a mesma pontuação, 95,0 (18,5), ficou o duriense Vértice Gouveio 2011. A fechar o Top 3 temos o Colinas Blanc de Blancs Cuvée Brut Reserve 2014 com 93,2 (18).
Sobre o Terras do Avô 2015

É um 'Blanc de Blancs' 100% Verdelho da Madeira, degorjado em Março de 2019. Apesar de ser apenas a segunda edição do primeiro espumante da Região, carrega o peso do sucesso do seu antecessor (que resultava de um blend de Verdelho e Sercial), e que com apenas 250 garrafas produzidas, surge como uma verdadeira raridade.

15 julho 2020

Chão da Ribeira recebeu encontro enogastronómico de Junho


A Confraria Enogastronómica da Madeira realizou o seu evento de Junho no dia 20, na localidade do Chão da Ribeira, Município do Porto Moniz. Neste evento esteve Rafael Jardim, sócio gerente da Sociedade de Produtores do Vinho do Seixal,  que promoveu aos confrades e seus convidados uma prova dos seus vinhos "Seiçal", branco e tinto.

Estreito de Câmara de Lobos, 15 de Julho de 2020.





RTP-Madeira
Madeirenses mantêm viva a tradição da ceia de São João
O atum, as maçarocas e o feijão continuam a ser o prato forte na ceia de São João na Madeira.


14 julho 2020

Gastronomia Património Cultural: o que é?


Em 26 de julho de 2000 foi publicada no Diário da República a Resolução do Conselho de Ministros relativa à proteção e salvaguarda da gastronomia portuguesa. No documento, resultante da decisão de um Conselho de Ministros então chefiado pelo atual Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a gastronomia portuguesa é elencada como um “bem imaterial do património cultural de Portugal”.

Poder-se-á, como é habitual, desvalorizar ou mesmo criticar o conteúdo do documento, que muitos não se lembram ou nem sabem que existe, mas a verdade é que se trata do «melhor documento» até hoje elaborado sobre este assunto e com estas caraterísticas, simplesmente porque não temos outro.

Depois da euforia dos primeiros anos, com muitas fotos, declarações e entrevistas e banquetes com ‘croquetes’, parece já não ser importante o ‘estatuto’ que foi lhe foi atribuído. Pode ler-se no documento publicado em Diário da República: “entendida como o fruto de saberes tradicionais que atestam a própria evolução histórica e social do povo português, a gastronomia nacional integra pois o património intangível que cumpre salvaguardar e promover”.

Apenas a título de exemplo das vantagens que poderiam advir da promoção de uma honesta ‘discussão’ (e ação) deste documento, vejamos algumas passagens do mesmo:
“… tem vindo a ser desenvolvido há já alguns anos um conjunto de ações visando inventariar, valorizar, promover e salvaguardar o receituário português, com o objetivo primeiro de garantir o seu carácter genuíno e, bem assim, de promover o seu conhecimento e fruição, por forma, ainda, a que se transmita às gerações vindouras”.
Alguém coloca dúvidas sobre a necessidade de “inventariar, valorizar, promover e salvaguardar o receituário português”? Sim, alguma coisa já se está a fazer, mas reconheçamos que insuficiente e com enorme falta de meios. A verdade é que, na altura, se esperava que acontecesse. Poderá ainda vir a acontecer?

Sobre a valia económica da gastronomia portuguesa, pode ler-se: “Esta dimensão de cariz eminentemente económico vem assim acrescer à valia sócio-cultural que a gastronomia portuguesa representa”. Este é, talvez, o grande desafio futuro da nossa gastronomia e dos nossos vinhos.
Todos reconhecemos que à “dimensão de cariz eminentemente económico”, importante e indispensável, como estamos a sentir nesta altura, é fundamental acrescentar a “valia sócio-cultural que a gastronomia portuguesa (e acrescento os vinhos) representam”.
Mas quando se começará a falar, de forma séria e franca, sem ‘quintalinhos’, sobre estes assuntos? E se das palavras se passar à ação, tanto melhor.

Amilcar Malhó
Jornal dos Sabores

11 julho 2020

Terra Bona: A História


Terra Bona
A NOSSA HISTÓRIA


Contada por quem nos leu a alma:

***

Do vinho da Madeira, o relato mais comum é que regou a independência dos Estados Unidos, o que já não seria coisa pouca. Algumas referências incluem-no também como nota literária em obras como “Henrique IV” de Shakespeare e há quem se lhe refira como o “vinho da eternidade” devido ao seu prazo alargado de consumo.​

E, em regra, este é “o” vinho da Madeira de que ouvimos falar e que vem nos livros da História.

A história que hoje aqui trazemos é outra. Tem pouco mais que um par de anos e, apenas partilha com a ancestral, o facto de ser sobre um vinho que surge por acidente. Falamos do Terra Bona, um vinho branco da Madeira, premiado com medalhas de bronze em dois dos concursos de vinhos mais prestigiados, o IWC e o Decanter, em Londres, e com uma pontuação de 90 pontos pelo conceituado crítico americano Robert Parker.

Tudo isto num vinho que não estava nos planos de Marco Noronha Jardim e de Maria João Velosa quando compraram a Quinta do Cardo, na freguesia da Boaventura, na Madeira. Aliás, o vinho – ou para sermos mais exatos, a vinha que existia no terreno da quinta, começou por ser um problema.

No relato direto: “Este projeto nasce de termos encontrado este terreno e nos apaixonarmos por ele. Ou melhor, eu apaixonei-me e a primeira coisa que fiz foi telefonar à Maria João a dizer ‘vi um terreno fantástico e tens de cá vir. Tem um problema, tem vinha’”, conta Marco Noronha Jardim.

Cinco anos depois, o “problema” transformou-se num vinho premiado, elogiado e que mudou o rumo da própria quinta adquirida para propósitos turísticos e agora adaptada a servir também uma vinha e um negócio suportado no vinho. O “projeto de reforma” dos dois bancários transformou-se assim numa aventura pelos vinhos que ainda agora está a começar.


Voltando ao início.
Era uma vez uma quinta, localizada em plena Floresta Laurissilva, património mundial, e que tinha lá plantada uma vinha abandonada com 22 anos em relação à qual os novos proprietários não sabiam bem o que fazer. De conversa em conversa, e tendo presente que queriam fazer do espaço um local privilegiado de agro-turismo, decidiram pedir ajuda e apoio para a recuperar. E em 2016 decidiram agarrar a vinha e produzir um vinho: “a nossa ideia era produzir algumas garrafas de vinho para vender no projeto turístico”.

Contrataram ajuda profissional, recuperaram a vinha e introduziram um conjunto de atividades “tendencialmemte biológicas” e com respeito pelo meio ambiente. O que é que isso significa? Basicamente “não deitamos remédios nem herbicidas” e “o terreno está ¾ do ano em biológico e entre abril e agosto é que há um conjunto de tratamentos com produtos fitossanitários”. Daqui resulta que sejam “o primeiro produtor com as vinhas licenciadas em produção integrada”.

Mas não percamos de vista o vinho. Em 2017, Marco e Maria João têm então o seu primeiro vinho. Tecnicamente um produto da casta Arnsburger através de um cruzamento com origem na casta Riesling. Para leigos, a casta alemã Arnsburger é muito semelhante aos ditos Rieslings, castas da Alsácia francesa de onde resultam vinhos muito aromáticos – e já bem conhecidos mundo fora.

“Nós fizemos um vinho com o que tínhamos, introduzimos 10% de verdelho de umas vinhas de uma tia da Maria João”, conta Marco, “a nossa ideia era que o vinho fosse bebível, com toda a franqueza”.

De bebível, o vinho – branco - da vinha abandonada passou a coqueluche junto a amigos e pessoas a quem iam dando a provar. Mas, na dúvida – seria gentileza? – Marco e Maria João decidiram “avaliar ao mais alto nível” aquilo que “toda a gente dizia que era maravilhoso”. E é aí que surgem os concursos de vinho em Londres e a avaliação de Robert Parker. Foi a prova que o vinho era, de facto, bom, e também que “na Madeira podem fazer-se bons vinhos brancos”.

A partir daí o projeto transformou-se. As unidades turísticas, cuja construção se deverá iniciar entre novembro deste ano e Janeiro de 2020, reduziram-se de seis para cinco para preservar ao máximo as vinhas existentes e os proprietários da Quinta do Cardo decidiram criar uma micro-adega para produção de três vinhos distintos, 1500 garrafas não mais. “Pequenas produções, pequenos lotes de outros vinhos com parcerias de outros produtores da região”, dizem.


Nestes três anos, os dois bancários que procuravam um projeto de vida alternativo, aprenderam também muito sobre a vinha e o vinho. “Nós acreditamos é que é possível fazer excelentes vinhos na Madeira e que é preciso ter o controlo da produção da uva”, afirmam. Este ano, os dois selecionaram uvas bago a bago, tiraram todos os bagos estragados de todos os cachos. No dia seguinte começaram a vindima às 5 da manhã para evitar maturação da uva depois de apanhada e antes de entrar na adega. Assim, dizem, “toda a uva que entra na adega é uva boa e isso tem um impacto brutal no produto final”.

O projeto turístico também mudou – será turismo mas ligado à vinha, batizado em conformidade como Terra Bona Nature & Vineyards. Mas tudo se manterá pequeno, quase artesanal. “Temos como compromisso ter um terço da produção para o mercado de Lisboa e Porto, um terço para mercado regional e um terço para nós”.​

Nasceu assim o ‘Terra Bona’ Family Harvest, uma história improvável de um vinho branco da Madeira.

Uma vinha pequena, uma uva escolhida à mão. “É assim que é e não vai mudar”, dizem os donos.

Rute Sousa Vasco, e Rodrigo Moreira Rato
In "Sapo24" 10.09.2019

***

Ler o artigo




Maria João, Marco e filhos
Terra Bona Wine Family



OUR WINE HISTORY
Told by those who read our souls:


***

Of Madeira Wine, one of the most common knowledge is that it was served in the independence of the United States, which would no longer be a small thing. Some references also include it as a literary note in works such as "Henry IV" by Shakespeare and some refer to it as the "wine of eternity" due to its extended consumption period.

And, as a rule, this is “the” Madeira wine that we hear about and that comes from the history books.

The story we bring here today is another. It has little more than a couple of years and only shares with its ancestor the fact that it is about a wine that comes by accident. We speak of Terra Bona, a white wine from Madeira, awarded bronze medals in two of the most prestigious wine competitions, the IWC and Decanter in London, and with a score of 90 points by renowned American critic Robert Parker.

All this in a wine that was not in the plans of Marco Noronha Jardim and Maria João Velosa when they bought Quinta do Cardo, in the parish of Boaventura, in Madeira. By the way, wine - or to be more exact, the vineyard that existed on the farmland, began to be a problem.

In the direct report: “This project comes from having found this property and falling in love with it. Or rather, I fell in love and the first thing I did was call Maria João saying "I saw some fantastic land and you have to come here." There is a problem, it has a vineyard”, says Marco Noronha Jardim.

Five years later, the “problem” became a prized, praised wine that changed the course of the property itself purchased only for tourism purposes and now adapted to serve a vineyard and a wine-based business as well. The “reform project” of the two bankers has thus become a wine adventure that is just beginning.

Back to the beginning.
Once upon a time there was a land, located in the heart of the Laurissilva Forest, a World Heritage Site, which had a 22-year-old abandoned vineyard planted there for which the new owners were unsure what to do. Conversation by conversation, and bearing in mind that they wanted to make a privileged place for agri-tourism, they decided to ask for help and support to recover it. And in 2016 they decided to grab the vineyard and produce a wine: “our idea was to produce some wine bottles to sell in the tourism project”.

They hired professional help, recovered the vineyard and introduced a set of “environmentally minded and environmentally friendly activities". What does that mean? Basically "we do not throw herbicides" and "the land is ¾ of the year in organic and between April and August there is a set of treatments with phytosanitary products". As a result, they are “the first producer with licensed vineyards in integrated production”.

But let's not lose sight of the wine. In 2017, Marco and Maria João had their first wine. Technically a product of the Arnsburger variety, originated from the crossing of Riesling varieties. For laymen, the German Arnsburger grape variety is very similar to the so-called French Alsace Rieslings grape varieties from which, very aromatic wines are produced - and already well-known around the world.

“We made a wine from what we had. We introduced 10% of Verdelho grape from the vineyards of Maria João aunt,” says Marco, “our idea was that the wine was drinkable, honestly”.

From drinkable, the white wine of the abandoned vineyard came to be celebrated among friends and people to whom they were tasting. But in doubt - would it be kind? - Marco and Maria João decided to “evaluate at the highest level” what “everyone said was wonderful”. And that's when the London wine contests and Robert Parker's evaluation come up. It was proof that the wine was indeed good, and also that “in Madeira you can make good white wines”.

From then on, the project changed. The tourist units, which will start construction between November this year and January 2020, have been reduced from six to five to preserve the existing vineyards to the full and the owners of Quinta do Cardo decided to create a micro winery for the production of three new distinct wines. 1500 bottles no more. “Small productions, small lots of other wines with partnerships with other producers in the region,” they say.

In these three years, the two bankers looking for an alternative life project also learned a lot about the vineyard and wine. “We believe it is possible to make excellent wines in Madeira and for that we need to have total control of grape production,” they say. This year, the two selected grape berries from berry to berry, removed all the damaged berries from all the bunches. The next day the harvest began at 5 am to prevent grape ripening after picking and before entering the cellar. So, they say, "every grape that goes into the winery is a good grape and it has a brutal impact on the final product."

The tourism project has also changed - it will be tourism but linked to the vineyard, named accordingly Terra Bona Nature & Vineyards. But everything will remain small, almost handmade. “We are committed to having one third of the production for the Lisbon and Oporto markets, one third for the regional market and one third for us.”

Thus was born the 'Terra Bona' Family Harvest, an unlikely story of a white wine from Madeira.

A small vine, a handpicked grape. “This is how it is and will not change,” say the owners.

09 julho 2020

Alheira de Mirandela tem agora uma Confraria


A Alheira de Mirandela, conhecida em todo país pela sua qualidade, tem agora uma Confraria que vai zelar pela manutenção, valorização e defesa de um dos produtos gastronómicos da região transmontana com um maior reconhecimento comercial.



06 julho 2020

Encontro enogastronómico de Julho acontece em Machico


A Confraria Enogastronómica da Madeira realiza o seu encontro cultural e enogastronómico de Julho no dia 25, no Município de Machico. O evento realiza-se no Restaurante "Pico da Maré Alta" e tem o seu início pelas 19 horas


Estreito de Câmara de Lobos, 6 de Julho de 2020.

05 julho 2020

Marcelo passeou pelo Funchal e acabou a beber poncha


Fez sensivelmente dois quilómetros a pé. Passou pelas Vespas, tirou dezenas de selfies, andou pela Avenida do Mar e foi à Zona Velha ser recebido com entusiasmo e alguma estupefacção por dezenas de pessoas. Acabou a beber poncha.

Marcelo Rebelo de Sousa está de visita à Madeira. Aterrou ontem às 18h44 e falou aos jornalistas antes da saída do aeroporto para um restaurante no Funchal. Depois do repasto, andou pela baixa da cidade do Funchal.

O chefe de Estado esteve ao longo da última noite, depois do jantar no restaurante 'O Clássico', a passear pela baixa do Funchal. Logo após a refeição, que juntou diversas figuras políticas da Região, Marcelo Rebelo de Sousa seguiu marcha para o centro da capital madeirense e acabou por passar pelas Vespas, na Avenida Sá Carneiro.


Aproveitou para tirar as habituais selfies - cumprindo sempre com as normas de segurança e utilizando uma máscara -, e seguiu rumo à Zona Velha da cidade. Pelo caminho, já na Avenida do Mar, o presidente da República abordou, foi abordado e conversou com dezenas de residentes.


Já para lá dos Teleféricos do Funchal, ali bem perto da Rua de Santa Maria, o presidente acabou por ser recebido com Vinho Madeira e aproveitou para entrar no espaço 'Venda Velha' para beber poncha. Pelo meio, esteve sempre a ser muito solicitado para tirar fotografias, fosse dos mais novos ou dos mais velhos. Na retina, ficou o sentimento de segurança que transmitiu logo à chegada e que acabou por se materializar da forma como se sente confortável: perto das pessoas.



O programa para este domingo

Durante o percurso feito ontem à noite, de aproximadamente dois quilómetros, a praia não vigiada em frente à Casa da Luz acabou por captar a atenção do Chefe de Estado, mas se quiser mergulhar hoje pela manhã terá de o fazer bem cedo. É que o presidente da República tem de estar às 11 horas no Centro de Saúde do Bom Jesus, no Funchal, unidade de saúde que enceta a agenda prevista para o 2.º e último dia de visita à Madeira.

Seguir-se-á uma passagem mais prolongada no Hospital Dr. Nélio Mendonça, por onde ficará até bem perto das 12h30, hora combinada para o almoço em Câmara de Lobos com o presidente do concelho, Pedro Coelho.

Marcelo acabará por ficar na freguesia - que foi forçada a implementar uma cerca sanitária durante o terceiro Estado de Emergência - até sensivelmente 15 horas, de onde vai partir rumo ao Funchal, mais concretamente à Quinta Magnólia, para um encontro com responsáveis de várias IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social).
HoraLocal
11hCentro de Saúde do Bom Jesus
11h30Hospital Dr. Nélio Mendonça
12h30Câmara de Lobos
15hQuinta Magnólia
17h30Aeroporto da Madeira
O périplo do chefe de Estado só termina às 17h30, no Aeroporto da Madeira, onde vai aproveitar para visitar a unidade de rastreio à covid-19, estrutura implementada pelo Governo Regional na zona de chegadas da pista de Santa Catarina.

Fonte: DN-Madeira
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