Os portugueses descobriram a Ilha da Madeira (na costa africana) em 1419 e, pouco depois, fizeram dela uma grande vinha. Considerado um vinho de baixa qualidade (que era diluído para fazer os famosos molhos madeira) durante a segunda metade do século XX, o Madeira deu a volta por cima nos últimos anos - quando o envasamento da bebida passou a ser obrigatório pelo produtor antes de sair da ilha - e voltou a ser respeitado.
O Vinho Madeira faz parte da ilha portuguesa que lhe dá o nome desde 1450. Apreciado por personalidades históricas como Napoleão, Shakespeare e Churchill, este fermentado tornou-se um símbolo de distinção e nobreza em todo o mundo.
História da Madeira
Descoberta em 1419, nos tempos áureos das viagens marítimas portuguesas, a Madeira ficou sob administração dos capitães João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrello, e logo foi ocupada com culturas de trigo, cana-de-açúcar e uva.
Nos primeiros anos de colonização, introduziu-se o sistema de cultivo em "latadas", em que as vinhas são conduzidas horizontalmente sobre arames e suspensas do chão por estacas. Embora não se saiba com precisão quais e quando foram plantadas as primeiras videiras, julga-se que os colonizadores trouxeram consigo variedades que já existiam no Minho, extremo norte de Portugal.
Registros históricos do navegador veneziano Alvise da Mosto, também conhecido como Luís de Cadamosto, evidenciam a introdução da casta Malvasia Cândia logo no início da colonização. O navegador relatou que "entre as várias castas, o Infante D. Henriques mandou plantar terrenos com Malvasia trazida de Cândia (então capital da ilha de Creta), que está se desenvolvendo muito bem". Em suas escrituras, Cadamosto ainda teceu elogios à qualidade do Madeira e ao grande número de garrafas vendidas ao exterior.
Tais registros são notáveis, pois comprovam que, passados poucos anos do início da colonização, as exportações de Vinho Madeira já eram uma realidade. Tanto que, em 1776, ele foi protagonista do brinde mais importante dos Estados Unidos, quando George Washington, Benjamin Franklin, John Adams e Thomas Jefferson celebraram a Declaração de Independência, em 4 de julho.
O vinho
De acidez marcante e frescor quase eterno, o Madeira é único no mundo, típico pelos seus aromas de envelhecimento que casam o sol e a temperatura alta da região com o processo de oxidação lenta, em cascos de madeira antigos. Neste néctar, há um sabor secular que renasce com jovialidade em cada garrafa. O Vinho Madeira é um prazer em forma de especiarias, amêndoas torradas, frutas cristalizadas e aromas etéreos que se fundem.
A ilha faz o vinho em suas encostas abruptas, moldadas pelas mãos dos homens em socalcos (degraus) de pequena dimensão. Os solos ácidos e o clima subtropical criam os vinhedos madeirenses. A paisagem vitícola, profundamente enraizada na ilha, é palco de miríades de cores que se transformam ao longo do ano, desde as diferentes tonalidades de verde aos castanhosavermelhados das vinhas.
A construção dos socalcos, sustentados por paredes de pedra, faz lembrar escadarias que vão, em algumas partes da ilha, do mar à serra, parecendo pequenos jardins imbuídos na paisagem.
Terroir e castas
A Ilha da Madeira tem uma área total de apenas 740 quilômetros quadrados (no máximo 58 km Leste-Oeste e 23 km Norte-Sul), sendo que 400 hectares são destinados exclusivamente à produção vitivinícola. O território madeirense expande- se no Oceano Atlântico e forma um arquipélago com a Ilha do Porto Santo e com as Ilhas Desertas e Selvagens.
Sua superfície apresenta grandes variações de altitude, do nível do mar a quase 2 mil metros. Em grande parte, os declives são superiores a 25%, onde só é possível plantar graças à construção dos socalcos. As áreas mais planas estão nas zonas urbana e suburbana do Funchal, a capital - locais em que o clima e a altitude não possibilitam a prática agrícola.
A maior parte da produção de Vinho Madeira tem por base as uvas Sercial, Verdelho, Boal, Malvasia e Tinta Negra, que são plantadas em solos de origem vulcânica. De forma geral, os solos madeirenses têm uma textura argilosa e quimicamente apresentam-se ácidos, ricos em matéria orgânica, magnésio e ferro, pobres em potássio e suficientes em fósforo.
Além do relevo acidentado e do solo ácido, o clima é um dos principais responsáveis pelo sabor único do Vinho Madeira. A região possui microclimas, que variam de uma costa a outra da ilha. Nela, encontramos ao mesmo tempo miniverões quentes e úmidos e mini-invernos amenos, sem contar os climas sub-úmido, úmido e árido que se alternam durante o ano.
Em termos de precipitação, a ilha apresenta valores anuais médios que rondam os 3 mil milímetros, em altitudes elevadas, e 500 mm, na costa sul junto ao mar. No outono e no inverno, alcança-se, geralmente, 75% da média anual. Na primavera, chove pouco, cerca de 20% da média, e no verão menos ainda: apenas 5% do volume anual. A chuva aumenta conforme a altitude, sendo este efeito mais acentuado na costa sul.
Cultura das vinhas
A paisagem da Madeira parece ser coberta por um enorme tapete de retalhos. Embora as vinhas apareçam em grandes manchas, não se enganem os menos atentos, pois elas pertencem a dezenas de explorações.
As vinhas plantadas nos pequenos socalcos dos montes tornam a mecanização quase impossível, obrigando que toda a cultura da uva, do semeio à vindima, precise da utilização de mão-deobra, que quase sempre é familiar.
A rega das vinhas é feita com água captada nas zonas altas e conduzida ao longo da ilha através de canais denominados "levadas". A construção das "levadas" iniciou-se com o povoamento das ilhas na segunda metade do século XV. Atualmente, esse sistema é constituído por cerca de 2.150 quilômetros de canais, dos quais 40 são de túneis.
Quanto ao sistema de condução da vinha, o mais tradicional é a "latada". Neste sistema, as vinhas ficam suspensas em arames sustentados por estacas, o que dificulta todo o processo de tratamento e a colheita. A altura das "latadas" varia entre 1 e 2 metros e as densidades de plantação entre 2,5 mil e 4 mil plantas por hectare. Na segunda metade do século XX, introduziu-se o sistema de condução "espaldeira", usado geralmente em terrenos com pouco declive que apresentam densidades entre 4 e 5 mil plantas por hectare.
Turismo
A notoriedade da Ilha da Madeira devese muito ao seu vinho, que ganhou fama e prestígio no mundo todo. Mas nem só de vinho vivem os madeirenses. Há muitas coisas para se fazer neste território português. Passear a pé é uma delas. Na Madeira, caminhar é também aceder às paisagens mais recônditas e belas, percorrendo indescritíveis circuitos naturais. O arquipélago possui um extraordinário tesouro cultural, que pode ser conferido em conventos, templos, palácios, solares e fortificações militares construídas no século XV.
Pelo seu clima ameno e a sua particular orografia, pode-se praticar diversas atividades ao ar livre e muitas modalidades esportivas. Uma delas é o golfe. Desde 1993, no início da primavera, realizase o Open da Madeira, parte integrante do PGA European Tour.
Graças à fertilidade do terreno e à abundante fauna marítima, a Madeira dispõe de uma gastronomia riquíssima. Pratos de peixe como "filet de espada", "bife de atum" e "atum de escabeche" são os mais famosos da região. Há ainda aqueles à base de carne, como a tradicional "espetada", que vem acompanhada pelo típico "milho frito" e o saboroso "bolo do caco". Não coma tudo, porém, se for passear de "carro de cesto".
Entre as várias atrações que merecem ser visitadas ou experimentadas na ilha, a que não pode faltar é a tradicional descida do Monte ao Funchal em um "carro de cesto" - uma espécie de trenó guiado por dois condutores que o empurram ladeira abaixo.
Contudo, se você não quiser fazer nada disso, não se preocupe. Aproveite para apreciar as paisagens da Madeira e os sabores do Madeira - um vinho com nome de ilha, de uma ilha com nome de vinho.
Fonte: Revista Adega
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