O borracho ou odre, foi em tempos idos, o meio mais eficaz de transporte do mosto das lagariças, disseminadas pelo meio rural, para os armazéns da cidade, ou portos locais. Este era feito a partir da pele de Cabrito, devidamente tratada e preparada para poder transportar o mosto. Desta forma, se procurava minorar a dificuldade e a canseira do transporte do vinho, criando-se um recipiente que se adaptar-se perfeitamente ao dorso do homem.
O borracho é dos poucos componentes da faina vitivinícola tipicamente madeirense. Apenas na Madeira ele foi utilizado para o transporte do mosto do lagar ao armazém. Todavia não é uma criação madeirense, pois aparece nas Canárias, no sul da Península e no Norte de África. Nesta última localidade, donde pensamos ser originário este utensílio, era e é usado para o transporte e guarda de água. Nas Canárias,o seu uso generalizou-se na população guanche para guardar o gofio.
A forte presença de escravos guanches na Madeira, na segunda metade do século XV, aliada à assídua participação madeirense nas campanhas militares marroquinas, terão contributo para o aparecimento deste tipo de utensílio na nossa ilha. Note-se, ainda que os guanches eram pastores de cabras, é com eles vieram os exemplares de gado caprino que povoaram as encostas das ilhas do arquipélago.
Ao longo do séculos XVI e XVII abundam nos testamentos referências a este recipiente, então chamado odre. A primeira representação do seu fabrico e uso surge no cadeirado da Sé do Funchal, datado de princípios do século XVI. Até ao último quartel do século XVIII continuou a utilizar-se esta designação. Certamente a expressão borracho é uma criação dos nossos dias, uma vez que não encontramos em séculos anteriores semelhante designativo.
A razão do uso do odre ou borracho no transporte do vinho é apresentada em documentos de 1777, onde se afirma que no transporte do mosto para as adegas se utilizavam os barris de dois almudes ou "odres sobre os ombros de homens porque a escabrosidade dos caminhos faz improváveis outras conduções".
O borracho destaca-se, assim, como o único componente da safra vitivinícola tipicamente madeirense, daí a necessidade da sua preservação e, porque não, o seu uso é divulgação nas múltiplas iniciativas culturais e turísticas.
Texto de Alberto Vieira - Breviário da Vinha e do Vinho da Madeira.
P.S. Numa deslocação à República do Chipre em 2016, em representação da Confraria Enogastronómica da Madeira, no evento dos Cavaleiros da Ordo Equestris Vini Europae - Chipre, Gregório Freitas e João Santos tomaram conhecimento que os habitantes do Chipre também usavam a pele de cabrito para o transporte do mosto.
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