24 março 2018

2018 - O Ano Europeu do Património

13:06

Artigo de opinião escrito por: Francisco Simões.
O Parlamento Europeu designou o ano de 2018 como o ano do Património.

Embora simbólico, este facto deve fazer lembrar-nos que o Património tem de ser estimado, estudado e entendido todos os dias do ano e todos os anos. O Património é a herança da nossa história.

Sensibilizar para a história, para os valores, e reforçar o sentimento da cultura do nosso País, da nossa região ou da nossa terra é um dever cívico e cultural. Devemos ter uma noção de abertura à diversidade e, nessa medida, sensibilizar os cidadãos e a sociedade para o valor do Património.

É importante apoiar a investigação científica, articulando as medidas de preservação do Património histórico construído, do Património paisagístico, do Património imaterial, assim como da criação contemporânea nas áreas das Artes, das Letras e da Música, incentivar o estudo da história nas escolas, desenvolver as bibliotecas escolares para promover uma cidadania activa relativa ao Património cultural.

O Património Cultural não é só o que se refere ao passado, o Património Cultural é também a existência de valores comuns, com a salvaguarda das diferenças e com o respeito do que é dos outros e aos outros se refere, e também, como referi, a nossa herança, a herança que é comum.

Desde a Torre dos Clérigos, passando pela Charola do Convento de Cristo, os Jerónimos, o Templo de Diana, a Sé do Funchal, a Igreja do Colégio, o Convento de Santa Clara, não esquecendo, as casas de Santana e a arquitectura pitoresca da Ilha. A poesia trovadoresca e a épica camoniana, o romanceiro de Garrett até à mensagem de Pessoa, o fado de Coimbra, reformulado pelo Bettencourt, poeta da presença, os professores liceais Horácio Bento e Irene Lucília, poetas madeirenses, sem esquecer, o José Agostinho Baptista e o maior de todos, Herberto Helder.

As casas de colmo, os engenhos de cana-de-açúcar, os barcos de Câmara de Lobos e até o bolo do caco, a espetada, o gaiado de escabeche. As lengalengas e cegarregas, o Bailinho da Madeira e o brinquinho. Tudo isto é património tão imenso e tão plural, património que nos rodeia e envolve sem que, por vezes, estejamos atentos à sua existência.

É nosso dever:

conhecer, divulgar, cuidar e fazer um levantamento exaustivo e atento daquilo que vamos conhecendo, propondo a sua defesa. “Perdido no vale do absoluto sossego” ou no “absoluto sossego das montanhas”, ou “no profundo silêncio do mar”, como escreveu J. Agostinho Baptista. Direi eu, a Ilha da Madeira está no absoluto sossego da beleza e da paisagem do universo, a Madeira é, ou devia ser, património de toda a Humanidade. Cada vez mais se lamenta o desrespeito por esse património, os diversos atentados no litoral da Ilha, atolando-se na água da ganância de alguns empreendedores defensores de outros interesses, com a cumplicidade de governantes, ignorantes e insensíveis. A ocupação e o uso abusivo, ao longo dos anos, daquilo que é património de todos tem sido uma constante e, ainda por cima, com aplicações de dinheiros públicos em equipamentos duvidosos, na orla costeira.

Todos os que denunciam e alertam para os perigos resultantes desta agressão ambiental têm sido rotulados, injustamente, de fundamentalistas ambientais.

A realidade, uma vez mais, aí está, ruidosa e implacável, e os responsáveis não sabem tirar as devidas conclusões, oito anos após a calamidade do aluvião de 20 de Fevereiro, que tanta destruição provocou.

Cabe às escolas e ao poder local uma acção conjunta, um trabalho profundo, na consciencialização dos valores patrimoniais e da sua defesa. Cabe aos professores, juntamente com os seus alunos, um olhar atento sobre a nossa herança cultural e patrimonial, cabe ao governo regional a criação urgente de uma comissão constituída por gente culta e competente para a realização de um trabalho digno na defesa do património de todos nós, reforçando orçamentalmente as instituições públicas, proporcionando aos seus quadros técnicos meios suficientes e capazes para o desempenho das tarefas.

Fonte: JM-Madeira

Escrito por

A Academia Madeirense das Carnes - Confraria Gastronómica da Madeira é uma associação sem fins lucrativos, que promove e defende a Gastronomia Regional Madeirense e todo o seu partimónio cultura.

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