Artigo de opinião por Verónica Faria.
Elas estão quase, quase aí a chegar. Um fruto pequeno, doce, suculento e vermelho. Mas o que será? Pois é, falo das cerejas, que estão já em processo de maturação. Eu já provei este ano e tu!?!
13 de maio, um dia especial, em que íamos a pé (com a família ou colegas da escola) à Capelinha de Fátima, no Cabo Girão, para a celebração deste dia. Entre conversas e gargalhadas lá íamos nós caminhando pela Levada do Norte ou pelo sítio da Furneira. Ao longo do percurso passávamos junto de terrenos com cerejeiras, onde as primeiras cerejas, encarnadas, brilhavam, à espera de serem colhidas e saboreadas. E claro, não resistíamos e começávamos a comer algumas. Este era o mote certo para começar a época da cereja.
Confesso que adorava esta altura do ano, em que nós crianças íamos, de terreno em terreno, colher cerejas, só para saborear. Na verdade, a maioria das cerejas ainda estavam a meio da maturação, mas a vontade de provar era superior. A adrenalina de ir apanhar as cerejas, sem que os “donos” vissem aumentava, ainda mais, essa vontade. Enquanto uns se deliciavam a comer, outros ficavam a vigiar se os donos pareciam. E depois trocávamos. Giro, giro era quando diziam “Fujam vem aí o dono!”, era a euforia total. Eram dias felizes e de muita euforia.
A época mais comum para a apanha das cerejas é mesmo em junho, altura em que a freguesia dá lugar aos tons encarnados. Uma época de muito, muito trabalho para as famílias. Não havia mãos a medir para apanhar as cerejas, um fruto tão delicado, quanto saboroso.
Atualmente, devido a doenças que afetaram os terrenos e as cerejeiras, a produção desceu de forma abrupta. Nada se compara à produção de há 20 ou 30 anos atrás.
Recordo-me de ser criança, com cerca de 6 anos, e de ir para a apanha das cerejas, com os meus avós, pais, tios, irmãs e primos, para os terrenos do meu avô, proprietário de muitos terrenos de cerejeiras. Para os mais pequenos, como eu, era maravilhoso, porque passávamos o dia a brincar no meio os “poios”. O dia começava bem cedo e a folia ia até ao final do dia. Já para os mais velhos, aqueles que apanhavam mesmo “à séria” as cerejas, o dia era intenso e cansativo e chegar ao final do dia e ainda ter de “acartar” os cestos carregados de cerejas era muito desgastante. Os terrenos ficavam, muitas vezes, longe das habitações e das estradas. Os acessos íngremes eram difíceis de “escalar”, ainda mais carregados.
Esta época era altura de muito trabalho, é um facto; mas que permitia amealhar dinheiro para o futuro.
A maior parte da colheita era escoada para o Funchal, para serem vendidas nas barracas das ruas ou no mercado dos Lavradores.
Sendo o povo do jardim da serra muito criativo, as iguarias produzidas com este fruto foram crescendo ao longo dos tempos. Desde gelados, compotas, doces, licores, tartes, bolos com um sabor suave e único da nossa cereja.
Atualmente, devido a doenças que afetaram os terrenos e as cerejeiras, a produção desceu de forma abrupta. Nada se compara à produção de há 20 ou 30 anos atrás.
É verdade que são poucas as quantidades produzidas de cerejas atualmente, mas as que temos são boas! Há uma vasta variedade de cerejas, desde a miúda à grada, prontas a serem degustadas, muito em breve! Desafio o leitor a fazer uma visita a esta bela freguesia, certamente vai ficar encantado. Quer apostar? Venha daí.
Fonte: Diário de Notícias
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