03 outubro 2018

O valor da agricultura

11:21

Artigo de opinião escrito por: Gil Rosa.


A agricultura é um trabalho duro e difícil, disso ninguém parece ter dúvidas.

Apesar do acentuado despovoamento ainda é possível observar em Santana, terrenos tão bem cultivados. Sendo que agora até há alguns projectos de sucesso, necessariamente com outra forma de olhar a agricultura.

Situação bem diferente daquele que tive oportunidade de viver na minha infância e juventude.

Os meus pais, tinham imensos terrenos cultivados. Lembro-me de ‘contratarem’ homens, para os cavar.

Cultivar neste caso não é apenas ter a terra, água e sementes. Requer muito trabalho, é preciso prepará-los para cultivar, tirar as ervas, cavar, abrir ‘camalhões’, depois os regos, adubar, meter as sementes, deitar guano e voltar a cobrir com terra.

Em casa, plantávamos semilhas, batata-doce, couves, milho doce, abóboras, favas, trigo, feijão, uvas, canas-de-açúcar e ervas aromáticas.

Nós, eu e os meus irmãos tínhamos algumas tarefas, destinadas pela minha mãe. Uma delas, era regar. No dia da rega, levantávamo-nos às 3 ou às 4 da manhã. Era a hora que o levadeiro nos entregava a água de giro. Com “olho de boi” ligado, preparávamos os tornadouros, reforçava-se os camalhões com mais terra, para o rego não rebentar. Tarefa nem sempre fácil.

Regar era uma das tarefas, mas havia muitas outras. Todos os dias havia sempre algo para fazer na terra.

Havia dias, em que tínhamos que mondar os terrenos, na altura do feijão, tínhamos de colocar canas para segurá-lo, apanhar batatas, no tempo da vindima apanhar e pisar as uvas.

Diariamente, tínhamos de apanhar erva para a vaca, cuidar dos porcos e das galinhas.

Recordo-me também quando trazíamos pessoal uma das tarefas preferidos era levar ao meio da tarde, o lanche, mais conhecido em Santana por, ‘entrebem’ aos homens, que estavam a trabalhar na fazenda.

Numa cesta, carregava pão caseiro com carne de porco gorda cozida na sopa feita para o almoço.

Àquela hora os homens deliravam com tal pitéu, seguido de um copo de vinho da pipa.

Também tínhamos direito à nossa parte, sabia tão bem, pão feito pela minha mãe, e carne de porco caseiro.

Nesse tempo, os dias pareciam enormes. Uma eternidade.

Havia tempo para estudar, para as tarefas de casa e ainda para jogarmos à bola. À tardinha apareciam os amigos da zona. A ideia era, jogarmos à bola, no pequeno campo de futebol em terra batida que existia no sítio.

Olhando para traz tenho de classificar essa vida como privilegiada. Andávamos tão perto da natureza, respirando ar puro, vivendo de uma forma tão descontraída, num ambiente saudável. O trabalho por vezes era duro, mas desconhecia a palavra stress.

É por tudo isto, que valorizo quem trabalha na terra, quem dá o seu melhor para manter os campos cultivados. Mesmo sabendo que hoje em dia a agricultura de subsistência não gera rendimentos e mesmo que seja para vender é pouco rentável. Mesmo assim, admiro e felicito quem tem o dom de cultivar, quem dá tudo de si, para continuarmos a vislumbrar ainda plantações de milho de feijão de batatas etc..

Palavra também para alguns empreendedores agrícolas que existem em Santana. Há exemplos de sucesso, alguns deles jovens que souberam introduzir inovação e por via disso transformaram-se em empresários agrícolas de sucesso. O mercado agradece a qualidade dos produtos produzidos em Santana.

Fonte: JM-Madeira

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