Artigo de opinião escrito por: Filipa Aveiro.
A natureza é tão imprevisível, quanto bela. Ela cerca-nos, encanta-nos e influencia-nos. A maturação das uvas dependem de condições externas, do clima, dos solos… assim também o é, o nosso amadurecimento enquanto pessoas.
As variações cíclicas são uma realidade que, em muito afetam a agricultura, exigindo aos seus profissionais uma luta diária para adaptar o seu ofício às condições climatéricas oscilantes que a natureza proporciona. Esta ilação pode ser transportada para as nossas vidas pessoais.
Qual de nós nunca teve que se adaptar a uma nova situação que nos tenha deixado desconfortáveis?
A vida dos humanos é como a das vinhas, exige adaptação, dedicação e trabalho, com foco nos objetivos.
Todas as alterações exigem metamorfoses de pensamento, de ação e de visão, tirando-nos da nossa zona de conforto. Mas, quando almejamos o desejável, o retorno é muito gratificante e até agradecemos o ‘percurso vivido’.
Tenho um amigo, da área do marketing, comunicação e eventos que, por circunstâncias da vida, mudou de rumo, deixando a sua vida urbana do mundo dos espetáculos, pela ruralidade duriense, num projeto vínico familiar que abraçou de alma e de coração, seguindo a paixão do seu avô, de alcunha Pôpa que deu nome à atual quinta.
Recentemente, visitei e tive oportunidade de conhecer a Quinta do Pôpa e o seu projeto arrojado e criativo - Pôpa Art Projects, que Stephane Ferreira, gerente e promotor, ambicionou, projetou e tornou este seu sonho real. É uma propriedade lindíssima, adquirida pela família em 2003, com uma vista sobre o Douro de cortar a respiração que, de forma encantadora, nos transmite aquele toque ‘rebelde’ e descontraído, patente em diversos elementos informativos e decorativos. Estes adjetivos também são aplicados, no geral, aos seus vinhos, onde o trabalho do enólogo explora a combinação de novos sabores e aromas de forma arrojada e criativa, fugindo um pouco ao formato habitual dos vinhos do Douro e seguindo uma nova tendência de produção de vinhos mais leves e com menos teor alcoólico.
O vinho que escolhi esta semana é o Pôpa ‘Black Edition’ tinto, de 2014. Stephane atreveu-se a atribuir esta designação original, que o distingue dos demais, ao invés de utilizar designações comuns como outros categoria idêntica. Este, inicialmente, marcou-se por um aroma fechado mas, no seu paladar, destaco a sua plenitude de boca que é marcado ao mesmo tempo pela sensação de profundidade. É um vinho de cor intensa, evidenciado pela madeira, com potencial de garrafa, podendo ficar alguns anos nas nossas prateleiras para o saborearmos num momento especial. Este acompanha pratos de carne bem temperados e consistentes.
A rebeldia e originalidade da quinta e do vinho, também estão presentes nos rótulos. O rótulo do Pôpa ‘Black Edition’ circunda a garrafa, num formato alto, de corte curvilíneo e com relevo, atribuindo-lhe elegância e movimento. As suas cores - preto, dourado e branco - dão-lhe um toque requintado, gracioso e nobre.
A criatividade estampada no logotipo homenageia a pôpa do cabelo do avô (que acabou por ser a sua alcunha), no recorte deste sobre o código de barras e, na descrição de pormenores informativos, como é o exemplo do teor alcoólico do vinho, disposto de 4 formas distintas sui generis.
O vinho é muito mais do que um néctar que gostamos de desfrutar… é uma história, um projeto, uma paixão que exige planificação, dedicação e adaptações periódicas, para que o mesmo satisfaça as exigências do produtor e do consumidor final.
Fonte: JM-Madeira
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