08 setembro 2017
Juntos pelo Nabo ou pelos Rojões
16:56
Sabe o que é uma chicharada ou um butelo? E já provou uma batata à racha? Conheça as confrarias tradicionais, e as que divulgam produtos desconhecidos.
Primeiro a ideia. Será que a Confraria Nabos & Companhia conseguiria criar um produto que pusesse mais pessoas a gostar de nabo ou de grelos de nabo? "Andava aí a moda do gin e lembrámo-nos de criar uma bebida com nabo", conta à SÁBADO Fábio Ventura, grão-mestre desta organização gastronómica, sedeada na aldeia de Carapelhos, em Mira, distrito de Coimbra. Depois, seguiu-se o desenvolvimento do produto. "Com a ajuda de um dos confrades e de uma parceria com uma empresa local, Caves da Montanha, criámos o ginabo. Demorámos seis meses", conta o responsável pela associação que se dedica à promoção e divulgação destes vegetais.
Motivados pela experiência, apostaram, no ano seguinte, 2015, num gelado – de nabo, claro. E mais uma vez foram aplaudidos. "Quisemos mostrar que é possível inovar", diz o engenheiro mecânico, explicando que por enquanto os produtos não estão à venda no mercado – são consumidos em eventos do grupo constituído por 58 homens.
Em Carapelhos, freguesia do concelho de Mira com 700 eleitores, 80% das pessoas depende directa ou indirectamente da cultura dos grelos de nabo. "O solo arenoso – estávamos a 7 km do mar – e o microclima tornaram possível esta cultura, que tradicionalmente era feita por mulheres." Em 1954, um jornal de Cantanhede contava que um só ajuntador (intermediário entre os agricultores e os vendedores) tinha reunido 500 mil molhos de grelos.
A Confraria dos Nabos & Companhia, criada em 2000, é uma das 83 associações sem fins lucrativos, que pertencem à Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas (FDCG) – haverá outras não filiadas. Numa altura em que não faltam restaurantes gourmet com pratos clean, as confrarias existem para fazer perdurar pratos e produtos tradicionais, como enchidos, doces ou queijos.
"Na década de 1980, surgiram as primeiras associações de defesa e promoção de produtos e pratos típicos portugueses", assegura Olga Cavaleiro, presidente da federação. Uma das percursoras foi a Confraria da Panela ao Lume, criada por Gonçalo dos Reis Torgal, em Guimarães. O grande boom, porém, aconteceu por volta do ano 2000, quando as confrarias se multiplicaram de norte a sul. "A gastronomia era vista como um produto complementar e não como um produto turístico estratégico, como é hoje", diz Olga Cavaleiro, sublinhando a importância do papel destas associações no desenvolvimento do País.
No grupo das confrarias federadas há as que defendem produtos qualificados e reconhecidos, como a do Queijo da Serra da Estrela, dos Ovos Moles de Aveiro, da Carne Barrosã ou da Doçaria Conventual de Tentúgal, mas também as que recuperam pratos ou produtos esquecidos, como é o caso do Anho Assado com Arroz de Forno ou dos Rojões com Grelos e Batata à Racha. Outras empenham-se na valorização de produtos desvalorizados, como a tainha.
Saiba mais na SÁBADO desta semana, que chegou às bancas a 31 de Agosto.
Fonte: Revista SÁBADO.
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