Confesso que me rendo a uma bela história e, no contexto vínico, existem histórias familiares inspiradoras, que nos fazem acreditar que o trabalho, quando alavancado por paixão, tem um fim grandioso.
Confesso que me rendo a uma bela história e, no contexto vínico, existem histórias familiares inspiradoras, que nos fazem acreditar que o trabalho, quando alavancado por paixão, tem um fim grandioso.
Muitas vezes dou por mim a querer saber a história que está por detrás de um vinho que me agradou de forma singular. Se assentar numa história de vida que, de alguma forma, me ‘toque’, admito que passo a apreciá-lo de forma muito mais atenta, questionando-me sobre os aromas e sabores que estes me despertam, em respeito à ‘alma’ do produto e à narrativa histórica que o antecedeu.
Num mundo cada vez mais globalizado e tecnológico valorizo, cada vez mais, os produtos com uma identidade vincada, marcada pelas vivências individuais e/ou familiares e movidas pela força do acreditar.
Nesta altura do “Pão por Deus”, em que as temperaturas começam a baixar, somos agradavelmente invadidos pelo aroma das castanhas assadas, que estão nas nossas ruas. A nível nacional, as castanhas são tradicionalmente acompanhadas pela jeropiga. Por cá, combinam bem com o Vinho Madeira ‘Rainwater’, denominação atribuída no século XVIII ao Vinho Madeira que era armazenado em pipas de casco que ficavam sujeitas à absorção das águas da chuva e do mar. Enquanto estas ficavam nos calhaus a aguardar o embarque, ou durante as viagens marítimas em que algumas vezes eram atingidas por temporais, ganhavam um estilo mais aguado.
Diversas adegas regionais têm no seu portfólio, e a preço acessível, este estilo de vinho. Falo da Madeira Wine Company, a Justino’s ou a Henriques & Henriques.
O ‘Rainwater’ que escolhi para o meu magusto, dada a sua história, foi o Barbeito ‘Rainwater’ Meio Seco, com 5 anos. Um vinho com aroma a verniz, de notas adocicadas, com um nível de açúcar equilibrado para um meio seco, que nos preenche a boca com suavidade, deixando um aroma longo e fresco a terra e a amêndoas.
Este vinho, produzido pelas castas Tinta Negra e Verdelho, é envelhecido em canteiro em cascos muito antigos, o que lhe atribui um paladar distinto que combina muito bem com as castanhas assadas em carvão. Atualmente, este vinho é produzido sem a inserção de água, sendo esta substituída pela casta Verdelho que, vinificada de forma mais suave, recria este estilo leve de Vinho Madeira, que já é reconhecido em diversos mercados internacionais.
Esta inovação está bem patente no vinho ‘Rainwater’, elaborado por Ricardo Diogo, da terceira geração da Barbeito, filho de Manuela Vasconcelos, uma das primeiras mulheres madeirenses no mundo vínico. Ricardo Diogo, formado em História, para alavancar a empresa familiar (que se encontrava numa situação pouco favorável), aceitou o desafio lançado pelo sócio japonês, assumindo o controlo dos vinhos, sem qualquer formação enológica, mas com muita experiência enraizada por ter sido criado no meio de cascos e garrafões em plena adega. Começou por fazer pequenas experiências e invenções, em paralelo com algumas formações na área e o resultado está à vista de todos, com a colocação no mercado de Vinhos Madeira extraordinários, graças à sua audácia e capacidade de inovação. Hoje, Ricardo Diogo é um dos grandes embaixadores do Vinho Madeira pelo mundo fora.
Os rótulos dos Vinhos Barbeito têm sido renovados ao longo dos anos, mantendo o desenho original do ‘nobre’ madeirense, com um traço moderno e irreverente, dado pela austríaca Cordula Alessandri, uma das mais notáveis designers a nível mundial que, em Portugal, apenas trabalha a imagem da Barbeito e da Niepoort. A figura masculina com a barriga saliente é a imagem de marca da Barbeito, que se apresenta, geralmente, com diversos acessórios e em posições díspares, que rematam para a singularidade de cada vinho. No caso do ‘Rainwater’, a figura humana tem sobre a sua cabeça meia pipa exposta à chuva, facto histórico que originou a sua denominação.
No próximo domingo, 11 de novembro, é dia de São Martinho, no qual tradicionalmente acompanhamos as castanhas com um bom vinho. A minha proposta está lançada, mas muitas outras conjugações podem ser feitas, com sabores típicos que lhe são familiares. Fica a dica!
Fonte: JM-Madeira
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