De casca verde, fina e rugosa, com um aspecto irregular, de polpa branca, doce e bastante perfumada, a anona é um dos frutos que já nos habituamos a chamar de nosso, talvez por desde sempre vermos as anoneiras crescerem sem grande dificuldade em quase todas as casas tipicamente madeirenses, no pequeno jardim ou na fazenda que a circundam.
Originária da terras altas da América Central, mais precisamente da quente e húmida região dos Andes, com o Perú e o Equador a servirem de berço, a anona chegou à Região logo depois dos Descobrimentos, por volta de 1600, através de umas sementes trazidas daquelas paragens por um madeirense que estava longe de imaginar que a anoneira, uma árvore que rapidamente pode atingir os 8 metros de altura, iria encontrar condições edafo-climáticas muito idênticas às da sua 'terra-natal'.
A verdade é que a adaptação foi tal que desde logo se tornou numa das frutícolas mais comuns entre nós, ocupando, hoje, um lugar de destaque na economia rural madeirense. Apresentando-se como uma fruta exótica, a anona é apreciada por madeirenses e turistas praticamente ao longo de todo o ano, embora conheça uma época de maior abundância nos meses de Primavera. O seu cheiro característico depressa denuncia a fase de amadurecimento, que consoante a variedade, poderá estender-se de Outubro/Novembro a Maio/Junho, apresentando-se, em pouco tempo, pronta para consumo, tanto ao natural, como num dos seus muitos derivados, nomeadamente bolo, pudim ou, até mesmo, em licor.
Certamente pelas condições do solo e de temperatura, em terrenos que se situam a uma cota até aos 600 metros de altitude na costa Sul e os 250 metros na costa Norte, é nos concelhos de Santana, Machico, Santa Cruz e Funchal que podemos encontrar a maior parte dos pomares de anoneira que serão responsáveis pelas cerca de 1350 toneladas de anona que se prevê serem colhidas este ano, num aumento que ronda os 25% em relação ao ano anterior.
Apresentando-se como uma cultura dinâmica, mas pouco exigente, limitando-se o agricultor a algumas regas e enriquecimento do solo nos períodos de floração e controlo das pragas, a anoneira viu crescer cerca de 4,4% a área de cultivo na Região, ao longo dos últimos 10 anos, passando dos 91 hectares em 2005, para os 95 hectares no ano passado. É no concelho de Santana, e sobretudo na freguesia do Faial, que se encontra a maior fatia, com cerca de 28% da área total. Tratam-se de parcelas pequenas, como de resto é bastante frequente em todas as produções regionais, representando cerca de 1289 produtores.
No que respeita à produção propriamente dita, podemos salientar o aumento de 78% que se verificou de 2005 para 2014, tendo passado de 613 para 1.092 toneladas. No mesmo período o valor da produção passou de cerca de 720.000 euros para 1.124.760 euros, significando um aumento de 56%, de resto, o mais elevado dos últimos anos.
De forma a incentivar à formação de novos pomares e à renovação dos existentes, a Direcção Regional de Agricultura e Desenvolvimento Rural tem prestado apoio técnico diverso aos agricultores madeirenses, com vista à melhoria geral da produção, nomeadamente no acompanhamento das plantações, bem como das enxertias, tendo sido distribuídas, nos últimos 5 anos, cerca de 13.500 novas plantas e efectuadas podas em mais de 67.000 anoneiras e cerca de 2.700 enxertias.
Anona biológica
Tal como se tem verificado em muitas outras culturas, também na anona já se verifica a aposta na produção biológica, ocupando, actualmente, uma área de produção que ronda 1,65 hectares, representando uma produção média anual na casa das 6 a 7 toneladas por hectare. É em Machico que se encontram grande parte destes pomares, que, de resto, garantem um rendimento superior ao agricultor. De resto, a cotação da produção em modo biológico, quando comparada com a produção tradicional, traduz-se numa quase duplicação dos benefícios. Em 2014, o preço rondou 2,18€/Kg, ou seja, quando comparado com o valor de 1,03€ da tradicional, corresponde a +111%.
Um fruto único
A anoneira é uma árvore semi-caduca, que atinge alturas entre 3 a 10 metros, e que na Madeira conhece pelo menos 4 variedades que se destacam: "Madeira"; "Funchal"; "Perry Vidal" e "Mateus". Apresenta-se como uma árvore bastante densa, com folhas de tamanho variável entre os 10 e os 25 cm, cujas flores hermafroditas surgem em períodos variáveis, consoante a variedade.
O seu fruto possui um elevado valor nutritivo, sendo a anona muito rica em ferro, fibras, vitaminas C e B, contendo também bons valores de cálcio, fósforo e potássio. Tido como um dos frutos com o melhor equilíbrio entre açúcares e ácidos, tem propriedades importantes na proteção do coração e na neutralização do excesso de acidez gástrica. É também indicado para a fraqueza, anemia e desnutrição, e mais recentemente foram referidas as suas propriedades na prevenção e combate de doenças cancerígenas.
Reconhecendo as particularidades dos frutos cultivados na Região, desde o ano 2000 que a União Europeia concedeu à Anona da Madeira o estatuto de Denominação de Origem Protegida, sendo, por isso, a primeira fruta regional a receber tal grau de proteção internacional, abrindo-se, desde então, novas oportunidades comerciais para os segmentos de mercado mais exigentes, traduzidas, por exemplo, num aumento da exportação, sobretudo nos períodos em que os mercados receptores estão 'carentes', retirando daí todos os benefícios económicos, proporcionando aos agricultores maiores rendimentos. Prova do incremento crescente da exportação de anona é o aumento significativo nos últimos dois anos. Entre 2013 e 2014, a exportação aumentou 92%, passando das 37 para as 71 toneladas, sendo que estes valores serão, certamente, superiores no final de 2015, graças ao aumento de produção expectável, bem como por força da aparição de novos operadores interessados neste canal de comercialização.
Dando o merecido destaque à anona, a freguesia do Faial voltou a 'vestir-se' a rigor para mais uma Exposição Regional da Anona, evento organizado pela Casa do Povo desta freguesia em parceria com a Comissão de Agricultores local, que vai já na sua 24ª edição. Desde ontem e durante todo o dia de hoje, poderá encontrar no centro da freguesia uma grande variedade de anonas e seus derivados, a que se junta muita animação. Passe por lá!