05 fevereiro 2020

O Panelo

09:02


O Panelo

Não há dúvidas de que o mês de Janeiro é aquele em que todos os caminhos vão dar ao Porto Moniz, ainda que seja a freguesia do Seixal seja o centro das atenções dois fins de semana seguidos, com o arraial de Santo Antão a ter ficado para trás no calendário e os olhos postos no panelo, no Domingo seguinte.

Milhares de pessoas preparam já o farnel para levarem para a casa de amigos, ou apenas conhecidos, ou amigos de amigos, ou amigos de conhecidos. O que importa é que alguém leve alguém que conheça alguém para uma das festas mais astronómicas da nossa ilha, mesmo sem ter essa denominação.

O panelo reúne nos quintais dos “palheiros” muitas pessoas, algumas delas há algumas décadas, que entretanto foram vendo crescer as listas de convidados nas suas casas e na dos vizinhos. A teoria do “cabe sempre mais um” encaixa perfeitamente aqui, até porque não são precisos lugares sentados em cadeiras à volta da mesa. A comida, composta por carnes, hortaliças e as inconfundíveis “semilhas do Seixal” é espalhada por cima de toalhas e quem ali vai serve-se à mão. Uma experiência que muitos madeirenses vivem ano após ano.



O Panelo

Realiza-se no Domingo a seguir à festa do senhor Santo Antão, padroeiro da freguesia e que se realiza no primeiro Domingo a seguir ao dia dezasseis de Janeiro. Antes tinha data fixa que era no dia 17 de Janeiro, mas não há muito tempo mudou para o Domingo seguinte, que muitas vezes coincide com o último Domingo de Janeiro. Por exemplo no próximo ano, 2021, o dia dezassete calha num Domingo, logo o panelo será no Domingo seguinte, dia 24, que é o penúltimo Domingo de Janeiro. Este esclarecimento valerá que não venha muita gente enganada no último Domingo.

Em segundo lugar queria esclarecer a sua origem, pois tenho ouvido muitas histórias que de acordo com o que o meu pai contava, não corresponde minimamente à verdade. Quando não se sabe como aconteceram as coisas, tenta-se acertar através de invenções que só por acaso acertam.



Nos meses de Primavera/Verão e princípio de Outono, havia vacas a pastar nas serras da Terra Chã e do Fanal, precisamente nos dois lados opostos ao Chão da Ribeira de proprietários do Seixal. Todas as Serras do Seixal eram comunitárias, pois pertenciam ao povo e em 1956 foi assinado um acordo em que a sua administração passaria para os recém criados Serviços Florestais, mas os Seixaleiros continuariam a usufruir das lenhas, matos e pastos. Quando o tempo começava a ficar muito frio nas serras, devido à altitude havia transumansia das vacas para o Chão da Ribeira e eram controladas pelos respectivos pastores.



A mulheres e as noivas dos pastores, ao domingo iam até ao Chão da Ribeira e levavam carne de porco salgada, proveniente do porco que criavam ao longo do ano e que era morto no dia 18 de Dezembro (não nos esqueçamos que não havia energia elétrica, nem frigoríficos e o período de conservação da carne era cerca de uma semana e a carne assada na panela do Natal, não podia ser salgada. Por sua vez os pastores arrancavam as chamadas semilhas de “Marrão” com o seu bordão e as couves que havia em abundância naquele sitio. Arranjavam duas pedras, faziam um lar e ponham os únicos três ingredientes: Carne de porco, couves e semilhas a cozer numa panela (os enchidos não existiam e só mais recentemente é que passaram a utilizar, assim como a cenoura e batata doce). Quando estivesse cozido deitavam no chão que era preparado com feiteira que cobria o chão depois de limpo das ervas e depois folhas de couve para evitar o contacto com o solo.

Depois de comerem e o Sol ia passando, jogavam à malha, jogo que eu saiba só jogado no Seixal, para aquecerem e os perdedores carregavam às costas os ganhadores à volta do campo de jogo definido.

Era um convívio entre namoradas, mulheres e os respetivos pastores, que no dizer de um locutor do canal de Televisão a Minha Terra, que me entrevistou sobre este tema, seria uma espécie de “dia dos namorados de antigamente”.

Depois a população começou a imitar este convívio e as famílias do Seixal começaram a fazer esse convívio, acabando no dia que definiram como “Dia do panelo”, por esvaziar a parte baixa do Seixal. O trajeto era feito a pé, pois não havia estrada e no regresso muitas pessoas cortavam alguns espigos, já em flor e vinham a cantar, com a ajuda de algum jaquet que também tinha participado no convívio. A data do seu início é desconhecida e perde-se na história....

Duarte Caldeira




A propósito do “Panelo” que se realiza todos os anos no Chão da Ribeira na freguesia do Seixal, gostaríamos de corrigir algumas imprecisões que vezes sem conta aparecem na Comunicação Social, nomeadamente no DN, principalmente através do seu colaborador Victor Hugo, e não só, e para isso recorro à memória do meu falecido pai que várias vezes me contava a sua história, que ouvia o seu pai e do seu avô.

Em primeiro lugar queria corrigir a data. Nunca foi marcada para o ultimo domingo de Janeiro, como tantas vezes tenho visto escrito, mas sim no Domingo a seguir à festa do senhor Santo Antão, padroeiro da freguesia e que se realiza no primeiro Domingo a seguir ao dia dezasseis de Janeiro. Antes tinha data fixa que era no dia 17 de Janeiro, mas não há muito tempo mudou para o Domingo seguinte, que muitas vezes coincide com o último Domingo de Janeiro. Por exemplo no próximo ano, 2021, o dia dezassete calha num Domingo, logo o panelo será no Domingo seguinte, dia 24, que é o penúltimo Domingo de Janeiro. Este esclarecimento valerá que não venha muita gente enganada no último Domingo.

Em segundo lugar queria esclarecer a sua origem, pois tenho ouvido muitas histórias que de acordo com o que o meu pai contava, não corresponde minimamente à verdade. Quando não se sabe como aconteceram as coisas, tenta-se acertar através de invenções que só por acaso acertam.

Nos meses de Primavera/Verão e princípio de Outono, havia vacas a pastar nas serras da Terra Chã e do Fanal, precisamente nos dois lados opostos ao Chão da Ribeira de proprietários do Seixal. Todas as Serras do Seixal eram comunitárias, pois pertenciam ao povo e em 1956 foi assinado um acordo em que a sua administração passaria para os recém criados Serviços Florestais, mas os Seixaleiros continuariam a usufruir das lenhas, matos e pastos. Quando o tempo começava a ficar muito frio nas serras, devido à altitude havia transumansia das vacas para o Chão da Ribeira e eram controladas pelos respectivos pastores.

A mulheres e as noivas dos pastores, ao domingo iam até ao Chão da Ribeira e levavam carne de porco salgada, proveniente do porco que criavam ao longo do ano e que era morto no dia 18 de Dezembro (não nos esqueçamos que não havia energia elétrica, nem frigoríficos e o período de conservação da carne era cerca de uma semana e a carne assada na panela do Natal, não podia ser salgada. Por sua vez os pastores arrancavam as chamadas semilhas de “Marrão” com o seu bordão e as couves que havia em abundância naquele sitio. Arranjavam duas pedras, faziam um lar e ponham os únicos três ingredientes: Carne de porco, couves e semilhas a cozer numa panela (os enchidos não existiam e só mais recentemente é que passaram a utilizar, assim como a cenoura e batata doce). Quando estivesse cozido deitavam no chão que era preparado com feiteira que cobria o chão depois de limpo das ervas e depois folhas de couve para evitar o contacto com o solo.

Depois de comerem e o Sol ia passando, jogavam à malha, jogo que eu saiba só jogado no Seixal, para aquecerem e os perdedores carregavam às costas os ganhadores à volta do campo de jogo definido.

Era um convívio entre namoradas, mulheres e os respetivos pastores, que no dizer de um locutor do canal de Televisão a Minha Terra, que me entrevistou sobre este tema, seria uma espécie de “dia dos namorados de antigamente”.

Depois a população começou a imitar este convívio e as famílias do Seixal começaram a fazer esse convívio, acabando no dia que definiram como “Dia do panelo”, por esvaziar a parte baixa do Seixal. O trajeto era feito a pé, pois não havia estrada e no regresso muitas pessoas cortavam alguns espigos, já em flor e vinham a cantar, com a ajuda de algum jaquet que também tinha participado no convívio. A data do seu início é desconhecida e perde-se na história....

Duarte Caldeira

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A Academia Madeirense das Carnes - Confraria Gastronómica da Madeira é uma associação sem fins lucrativos, que promove e defende a Gastronomia Regional Madeirense e todo o seu partimónio cultura.

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