A carne de vinha de alhos é uma iguaria simples, tradicional na ilha da Madeira, que não falta nas mesas dos seus habitantes na quadra do Natal.
"A Madeira come carne de vinha de alhos no Natal, porque alguns dos colonos que vieram para cá eram do Minho e trouxeram essa tradição de fazer a carne um pouco parecida com os rojões que eles costumam lá fazer", disse à agência Lusa Teresinha Santos, uma conhecedora das tradições culinárias do arquipélago.
Teresinha Santos foi agente de educação familiar rural, e teve a responsabilidade de criar o primeiro centro de extensão desta área na ilha, serviço que também dava aulas de culinária, ainda antes do 25 de abril de 1974, é atualmente presidente da assembleia-geral da Casa do Povo da Ponta do Sol, na zona oeste da ilha.
Em 2007, ano em que a Ponta do Sol foi Município da Cultura na região, elaborou um livro dedicado à culinária tradicional, que inclui receitas típicas do arquipélago, que foram testadas na altura e ficaram assim reunidas.
Teresinha Santos apontou que os madeirenses adaptaram à receita de carne de porco dos colonos "os condimentos e as ervas aromáticas que tinham na Madeira", dando-lhe o toque regional.
Esta iguaria culinária está também relacionada com uma outra tradição natalícia insular, a matança do porco.
Quase todas as famílias matavam o porco “na ‘Festa' [designação madeirense para a quadra do Natal] e essa matança era já uma festa que reunia a família e, ao cortar o porco, já se reservava parte de febras e carne própria para a vinha de alhos", explicou.
Depois, "quando se chega a dois ou três dias antes do Natal, a dona de casa, a mãe de família vai à púcara, tira os pedaços de carne, pica em cubos e faz, então, uma vinha de alhos já própria para a cozedura", disse.
Falando sobre a confeção deste prato, o ‘chef’ Octávio Freitas, realçou que "a receita tradicional de carne de vinha de alhos é uma receita simples, com a particularidade de ser feita só na ilha da Madeira".
O especialista explicou que "esta carne é marinada durante alguns dias em salmoura e, após esse tempo de cura, é corada ou alourada em banha de porco, portanto, não é azeite nem óleo, já que o tradicional é mesmo banha de porco".
Depois, "é cozinhada com os sucos da marinada durante uma hora ou duas", para se obter "uma carne bem desfeita e suculenta", no que classificou como processo de "cozedura simples".
Sobre o acompanhamento, a tradição é utilizar "uma fatia de ‘pão de casa’, que é o pão tradicional madeirense - como os alentejanos por exemplo -, que é frito na banha de porco, sendo quase uma espécie de ‘bruschetta'.
A carne de vinha de alhos é servida em quase todos os restaurantes da região, sobretudo na quadra do Natal. Na denominada Noite do Mercado (23 de dezembro), no Funchal, são vendidas milhares de sandes confecionadas com base nesta receita.
(Fonte: Diário de Notícias da Madeira)
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