Os seis engenhos que transformam a cana-de-açúcar em aguardente e mel na Madeira vão este ano consumir 8.250 toneladas de cana, naquela que é considerada a maior produção dos últimos 30 anos na região.
Num setor que representa atualmente entre 4,5 e cinco milhões de euros, a Direção Regional de Agricultura considera que o que tem sido feito com o apoio da União Europeia tem dado resultado.
"Este crescimento é resultado da política de estímulo ao setor desenvolvida nos últimos 15 anos, concretamente através do apoio técnico, da utilização de fundos da União Europeia e da região para o investimento e do reforço do rendimento dos produtores. O preço da cana aumentou 100% se compararmos o valor praticado no ano 2000 (0,135 euros/quilograma) com o valor de 2014 (0,27 euros/quilograma)", refere o diretor regional, Bernardo Araújo.
O grande desafio está atualmente na exportação, já que, por exemplo, a produção de mel em 2014 foi de 118.345 litros e uma parte ainda está em armazém.
Luís Camacho, do engenho do Ribeiro Seco, no Funchal, espera este ano usar 1.500 toneladas de cana para produzir mel.
"Estamos a tentar, não só a nível regional, com novas aplicações do mel, como a nível nacional, tentar sair, já que o importante é realmente escoar o produto", afirma.
O consumo interno começa a ficar saturado e o empresário pretende alcançar o continente. O problema "são as margens de lucro e os transportes, que oneram o valor final", o que acaba por afastar os consumidores.
Diversificar parece ser outra palavra-chave no discurso de Luís Camacho, já que a empresa criou recentemente dois novos produtos: bombons de mel e trufas de bolo de mel.
A norte, no engenho do Porto da Cruz, recuperado recentemente, Luís Faria acredita que a exportação será a melhor hipótese para um setor que começa a sentir os efeitos da baixa do consumo interno, ainda que este ano tenha aumentado a tonelagem para as 2.400.
"Durante muitos anos preocupámo-nos apenas com o mercado regional, neste momento temos de pensar na exportação", diz, ressalvando que a procura tem sido um pouco inferior, devido à grande produção de cana, que não é acompanhada pelo consumo.
Os números oficiais refletem isso mesmo. A produção de cana aumentou 164% desde o ano 2000, tendo também aumentado o rendimento para o produtor, bem como a área de plantação, que atualmente atinge os 156 hectares. Para estes números contribuem os 733 produtores registados pelos engenhos.
Para o rum, principal ingrediente da poncha madeirense, o registo oficial indica que foram produzidos, em 2014, 441.734 litros.
Na Calheta, o engenho local cumpre a tradição de produzir pouco mel e muita aguardente. Carlos Bettencourt, empresário, vai moer 3.000 toneladas de cana, que servirão, na sua quase totalidade, para a poncha.
"Estamos a prever uma produção igual à do ano passado, ainda que com melhor qualidade, e exportar está fora de questão porque a burocracia é tanta e as despesas são tantas que não compensa", afirma.
O engenho da Calheta ainda tem alguma aguardente em stock, mas nada que aflija Carlos Bettencourt, que para este ano espera produzir mais "100 mil litros, só dependendo da graduação da cana que for moída".
Quanto ao mel, calcula produzir cerca de 20 mil quilos, mas é todo para consumo na própria empresa, que também fabrica bolos, broas e licores.
No mesmo concelho existe mais um local de laboração da cana-de-açúcar, o engenho Novo da Madeira. O responsável, Celso Olim, espera produzir 130 mil litros de aguardente e 30 toneladas de mel com 1.800 toneladas de cana, um aumento face a 2014, com a produção pensada também para outros mercados.
"Estamos a virar-nos para o mercado nacional, a testar algumas grandes superfícies comerciais, temos alguma exportação, sendo que o mercado regional representa para nós 70% do consumo da produção", explica.
Estas fábricas laboram pouco tempo por ano - cerca de 20 dias ininterruptos, nesta altura -, porque só agora a cana está num estado de maturação em que pode ser usada para fabricar mel, aguardente, entre outros produtos derivados.
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