Caros confrades, caras senhoras e caros senhores,
A Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira está a realizar, como é do vosso conhecimento, o seu XV Grande Capítulo. Em meu nome e em nome da Confraria que presido o nosso muito obrigado pela vossa presença.
A presença das confrarias europeias e nacionais nos nossos Capítulos comprovam a linha de actuação seguida pelas direções da confraria da Madeira pois estas sempre defenderam de que a Madeira, sendo uma das primeiras regiões turísticas da Europa e primeira de Portugal, a defesa da sua herança cultural gastronómica e baquicapassaria, igualmente pelas pessoas que visitam a Região Autónoma da Madeira e contribuindo assim para o descrédito da tese de que o palato dos turistas não aceitam os sabores e aromas da gastronomia típica, atlântica e madeirense.
Desde a fundação da AMC/CGM, na Vila do Estreito de Câmara de Lobos, no ano de 2000, sempre no cargo de presidente da direção (isto é, nestes quinze anos no movimento confradico nacional e internacional), disse a pequenos e médios disparates, assisti e ouvi coisas de ficar de boca aberta, cometi erros, grandes ou pequenos, não sei, mas como dizem os políticos "a história e o tempo farão o seu julgamento".
A verdade é que nestes quinze anos de presidência da Confraria Gastronómica da Madeira tive a oportunidade de visitar várias regiões de Portugal, Espanha, Itália, França, Bélgica, Suíça, Eslovénia, Sérvia, Hungria, Estónia e Cabo Verde onde participei em vários eventos gastronómicos e ou baquicos e onde a gastronomia e os vinhos das respectivas regiões eram exaltadas e enaltecidos. Ou seja, nessas regiões a gastronomia e os vinhos locais são respeitados e promovidos sem desdoiro.
Caros amigos, a função das confrarias gastronómicas, baquicas ou de outros produtos tais como cerveja ou aguardente é o estudo, a promoção, a defesa do produto e da sua respectiva região. A gastronomia madeirense não corre o perigo imediato de desaparecer mas no entanto é constantemente sujeita a ataques dos adeptos da cozinha internacional ou da última moda da culinária.
A Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira não está, nunca esteve e não é a sua intenção estar contra ou fazer oposição aos chefes de cozinha que inovam e tornam mais ricos e apelativos os pratos que compõem a rica e plural gastronomia madeirense, desde que os mesmos respeitem o aspecto cultural existente entre os produtos regionais e as suas respectivas receitas. Estes Chefes têm e continuarão a ter todo o nosso apoio e incentivo, pois um produto sem memória não passa de um elemento estéril.
Se acreditarmos ou quisermos acreditar de que nos últimos anos a gastronomia converteu-se num elemento indispensável para conhecer a cultura e o modo de vida de um território, que a gastronomia responde a valores clássicos que se associam as novas tendências no turismo, o respeito pela cultura, tradição, vida saudável, autenticidade, sustent abilidade e experiência que a gastronomia representa uma oportunidade para dinamizar e diversificar o turismo. Contribui para o desenvolvimento económico local, que o protagonismo da gastronomia na escolha do destino e no consumo turístico provocou um crescimento de uma oferta gastronómica baseada em produtos de qualidade e de produção local, a gastronomia é considerada por 88% dos destinos turísticos um elemento estratégico para a afirmação da sua imagem e marca
Caros amigos e confrades, defendemos para a nossa Região o incremento do turismo gastronómico, ou como se diz na Europa, o"turismo do gosto". É e seria uma grande estupidez usarmos os muitos bons produtos agrícolas e do mar da nossa Região em receitas de origem de outros países. Como é do conhecimento geral a grande maioria dos turistas que nos visitam tem grande expectativa em relação à nossa gastronomia Atlântica e é preciso não os defraudar ou mesmo burlar.
Desde há muito tempo que ouvimos vários responsáveis políticos a elogiar o potencial papel do vinho e da gastronomia na promoção turística do nosso país e da nossa Região, mas a verdade é que os mesmos pouco ou nada fazem nesse sentido. Nós defendemos a realização de eventos gastronómicos em restaurantes nas grandes e médias cidades da Europa, onde o cidadão residente local tenha fácil acesso, a presença em feiras nacionais e internacionais de jovens com algum conhecimento do vinho Madeira, da gastronomia Madeirense e da Madeira, trajados com a indumentária da Confraria do Vinho Madeira e da Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira, que as ementas dos eventos gastronómicos de responsabilidade do turismo Madeira nessas feiras respeitem a tradição gastronómica madeirense, pois bacalhau com broa não é exemplo de gastronomia madeirense.
Caros amigos, o caminho percorrido pela Confraria Gastronómica da Madeira nestes 15 anos da sua existência não foi e está muito longe de ter sido um desfile na passarela. Foi um juntar de vontades e esforços para que alguns ideais ou projectos fossem concretizados e que outros venham a ser.
A Confraria sempre enfrentou os problemas numa perspectiva de continuar em frente nos seus propósitos e por isso decidiu nos últimos 3 meses reestruturar-se. Aceitou e respeitou o pedido de desvinculação da Confraria apresentados por vários confrades. Decidiu igualmente desvincular da Confraria todos confrades que não regularizaram nem mostraram interesse em regularizar as respectivas quotas. Dos 107 confrades de número/efectivos que contava a Confraria passou para cerca de 25 confrade. A Direção deliberou igualmente de que todos os ex-confrades estão impedidos de representarem a AMC/CGM ou usarem o traje que identifica a nossa confraria em eventos públicos.
Caros confrades e convidados, sabendo que corremos o risco de sermos acusados de fazer parte do "grupo vira o disco e toca o mesmo", defendemos a elevação da gastronomia da Madeira a "Património Cultural Regional", a criação da "Direção do Vinho e Gastronomia" e reivindicamos para a Confraria um lugar no Conselho Regional de Turismo e a criação de um espaço museológico na Vila do Estreito, dedicado à gastronomia e ao vinho da Região Autónoma da Madeira.
A Confraria pede ao novo Governo Regional da Madeira e à Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira a coragem e vontade política para que a elevação da gastronomia regional a Património Cultural Regional seja uma realidade nestes próximos 4 anos.
Caros confrades e convidados, ser confrade não é apenas vestir a respectiva indumentária, fazer o respectivo juramento e aparecer quando bem entender aos eventos da Confraria. É muito mais que isso, é necessário acreditar e defender a causa e os propósitos da confraria.
Aos novos confrades, sejam bem-vindos, pois a Confraria e todos nós acreditamos o que de positivo poderão contribuir.
A Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira, como é do vosso conhecimento, é co-fundadora da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, faz parte do seu actual Conselho Directivo e apoia todo o trabalho realizado pela actual direção. No entanto, defende que faz falta em Portugal a criação de um forte 'lobby' gastronómico em que a FPCG seja uma peça fundamental ou de máxima importância, a reestruturação ou reactivação da Comissão Nacional de Gastronomia. Defende, igualmente, a necessidade de um melhor relacionamento com a realidade confradica internacional e a reestruturação dos organismos do movimento confradico internacional.
A direção da Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira mais uma vez sente-se grata com o apoio jornalistico que toda a comunicação social da Madeira tem dado a esta associação desde a sua fundação.
Caros confrades, senhoras e senhores, quero dedicar as últimas palavras deste discurso a uma nossa "amiga". Sim, "amiga", pois acompanhou muitos madeirenses quando estes bebiam cerveja ou poncha ou mesmo em casa de muitas famílias Madeirenses, quando a nossa "amiga" substituía o bacalhau. Estou a referir-me, como sabem, ao "Peixe Sará-Branca" ou "Peixe-Gata", referencia gastronómica de Câmara de Lobos e da Madeira que desde 1 de Janeiro está proibida pela Comissão Europeia das Pescas em nos fazer companhia.
Amigos, neste momento não interessa saber se o dossier "peixe-gata" foi ou não bem trabalhado. Quanto a nós, neste momento, o que interessa é que esta nossa "amiga" volte a ser uma presença nas nossas mesas.
Tenho dito.
Discurso de Gregório Freitas,
Presidente da AMC/CGM
26 de Abril de 2015 no XV Grande Capítulo.
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