19 novembro 2020

A Ilha da Madeira e os seus vinhos

17:15


A Ilha da Madeira foi descoberta em 1419 por três navegadores do rei D. João I, nos tempos áureos dos descobrimentos portugueses, comandados por João Gonçalves Zarco.
Alguns anos mais tarde, estes navegadores junto com suas famílias e mais alguns grupos de pessoas, foram os primeiros a povoar a ilha, sob a gestão de D. Henriques, que ficou a cargo do povoamento e exploração das ilhas.
Foi Zarco quem deu o nome de "Ilha da Madeira" devido à abundância desta matéria-prima no local. Uma floresta densa que precisou ser desbravada pelos portugueses. Inclusive, para poder povoar a ilha, precisaram usar fogo para desmatar algumas partes da floresta. Causaram um incêndio tão grande que não conseguiram deter o fogo e este incêndio durou 7 anos.
A produção de vinhos na região existe há quase 600 anos. Mas foi apenas no final do séc XVII, com o declínio do cultivo da cana de açúcar na ilha (devido à concorrência com o Brasil), que houve um incremente no cultivo, produção e exportação destes vinhos.
Com o tratado de Methuen, no séc. XVIII, o porto de Funchal virou ponto de abastecimento dos barcos em rotas para África, Ásia e América do Sul, que passaram a transportar vinhos para vender.
Segundo Rui Falcão, muitas vezes, esses vinhos voltavam sem comprador. E começaram a notar que estes vinhos voltavam melhores por conta do calor abafado dos navios. Ganhavam mais intensidade de sabores e aromas e mais complexidade.
A partir daí, os negociantes começaram a enviar propositalmente os vinhos para que fizessem viagem e voltassem melhorados. Esses vinhos ficaram conhecidos como “Vinho de Roda” ou “Vinho de Torna Viagem”.  Entretanto, o custo para enviar estes vinhos eram altos e, buscando alternativas, mais baratas e rápidas, encontraram o método de estufagem para oxidar o vinho e criar características semelhantes às do vinho de roda.

A região...
A Madeira é uma das ilhas mais belas do mundo. Muito íngreme e muito verde, rodeada pelo oceano atlântico. São 732 km2 de área e 500 ha de vinhas.
Região de solos vulcânicos (basálticos) e clima sub-tropical, com verões quentes e úmidos e invernos amenos.
As vinhas são plantadas em socalcos (poios) com muros de pedras, basicamente no sistema de "latada" (pérgola), e a água da rega é conduzida por canais de água (levadas) que foram construídos na época do descobrimento da ilha (são 2150 km de canais).
A Madeira possui duas denominações de origem, Madeira DO e Madeirense DO, sendo a primeira específica para vinhos licorosos (fortificados) e a segunda para vinhos tranquilos, sejam brancos, rosés ou tintos. Há também uma Indicação Geográfica chamada de Terras Madeirenses IG, também para produção de vinhos de mesa.
 
O vinho mais longevo do mundo
 
Imagine um vinho que é, basicamente, cozinhado durante seu processo de produção. Isso torna o vinho Madeira praticamente indestrutível, já que é um vinho que sofre uma oxidação proposital.
Depois de colhidas e selecionadas, as uvas são prensadas e o mosto é fermentado parcial ou totalmente e, então, fortificado com aguardente vínica a 96%. O momento certo para a fortificação vai depender do grau de doçura que se deseja atingir. Sendo assim, o vinho Madeira pode ser seco, meio-seco, meio-doce e doce.
Após esse processo, o vinho pode ser envelhecido de duas maneiras: Estufagem ou Canteiro.

Estufagem - O vinho é colocado em estufas de aço inox, aquecidas por serpentina, onde circula água quente (entre 45 e 50 graus C), por um período nunca inferior a 3 meses. Depois, o vinho passa por um estágio de, pelo menos, 90 dias à temperatura ambiente, quando é colocado em inox ou em cascos de madeira por, no mínimo, 12 meses até ser engarrafado. São vinhos maioritariamente de lote e de menor qualidade.
Canteiro - são envelhecidos em cascos, normalmente nos pisos mais altos dos armazéns, que possuem temperaturas mais elevadas, pelo período mínimo de 2 anos e só poderão ser comercializados após 3 anos. É um processo mais caro, no qual os vinhos desenvolvem características únicas, sendo utilizado nos melhores vinhos da região.
 
Principais uvas
 
Há várias castas recomendadas e autorizadas na região, seja para produção de vinho fortificado ou vinho tranquilo. Mas as mais importantes, especialmente para o vinho Madeira DO são:
Sercial, Verdelho, Boal, Malvasia, Terrantez (brancas) e Tinta Negra (tinta) - mínimo de 85% quando especificadas no rótulo.
Já o Madeirense DO, que produz brancos, rosés e tintos pode utilizar inclusive variedades estrangeiras, como Chardonnay, Syrah, Merlot e outras, assim como os vinhos IG Terras Madeirenses, que possuem legislações próprias e menos rígidas.
 
Estilos de vinho Madeira
Os vinhos Madeira podem ser classificados quanto ao teor de açúcar, podendo ser blend ou varietal, com indicação ou não de idade.
Sem indicação de idade - geralmente envelhecem por 3 a 5 anos, geralmente são rotulados como "Finest Madeira". Nesta categoria, há também o “Rainwater Madeira”, num estilo mais frutado e simples, onde a Tinta Negra é muito utilizada.
Com indicação de idade - quando atingem certos níveis de qualidade, podem ser classificados como 5 anos (Reserve), 10 anos (Special Reserve), 15 anos (Extra Reserve), 20, 30, 40, 50 e 50+ anos), podendo apresentar ou não o nome da uva no rótulo.
Com ano de colheita - caso apresentem o ano da safra, podem ser classificados como Colheita (mínimo 5 anos de envelhecimento) ou Frasqueira(mínimo 20 anos). Estes são as duas jóias dos vinhos Madeira.
 
Os varietais são a melhor versão do vinho madeira, podendo também ter a indicação de idade.
Sercial - é o estilo mais seco, com ótima frescura, notas cítricas e herbáceas, com notas minerais. Evolui para notas de frutos secos e madeira.
Verdelho - um pouco mais intenso que o Sercial, meio-seco, com notas mais especiadas. É dos mais versáteis para harmonizar.
Boal (Bual) - de cor âmbar, com reflexos dourados, é meio-doce, com notas de figos, caramelo e baunilha. Muito bom para harmonizar com queijos.
Malvasia - o mais doce de todos. Intenso, com aromas de amêndoas tostadas, caramelo, chocolate e especiarias.
Terrantez – menos comum, por ser uma uva quase em extinção, que pode ser seco, meio seco, meio doce ou doce, com coloração entre o dourado e o âmbar, com aromas de frutos secos, madeira e especiarias, muito equilibrado e persistente.
 
Se ainda não provou um vinho Madeira, não perca tempo! São grandes vinhos, mas tente escolher bem para não errar. É muito fácil, especialmente aqui no Brasil, encontrar os tipos mais simples deste grande néctar, que, às vezes, não valem muito a pena. 
Vale lembrar que o vinho Madeira tinha vários fãs no mundo, como George Washington, que brindou a Independência dos Estados Unidos com uma taça de Madeira, além de Thomas Jefferson, William Shakespeare, Napoleão Bonaparte e Wiston Churchill e muitos outros.
Eu confesso que só fui descobrir os encantos do vinho Madeira quando morei em Portugal. E, mais recentemente, os vinhos Madeirense DO, que ainda são poucos, mas muito bons.
Ficam aqui algumas referências de vinhos da região. Degustação de vinhos da Blandy's
 Os grandes vinhos da Barbeito
 Um Frasqueira FANTÁSTICO!
 A Diana produz vinhos com a Tinta Negra, branco, rosé e tinto. 
 Um branco Madeirense com uma acidez deliciosa
 
* A foto do post é da www.vinhomadeira.com
Fontes: Vinho Madeira, IVV, Jancis Robinson, Wines of Portugal, Barbeito e Blandy's.
 


Escrito por

A Academia Madeirense das Carnes - Confraria Gastronómica da Madeira é uma associação sem fins lucrativos, que promove e defende a Gastronomia Regional Madeirense e todo o seu partimónio cultura.

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